sábado, 3 de fevereiro de 2024

SEM OS TRAIDORES SERIA IMPOSSÍVEL MANTER A OCUPAÇÃO SIONISTA NA PALESTINA: ABBAS É O LULA DO ORIENTE MÉDIO 

Os inimigos imperialistas do povo palestino falam em “inventar” uma nova liderança palestina. Os EUA Imaginam uma liderança que continuaria a fornecer ao enclave sionista de Israel e ao Ocidente todos os serviços que a Autoridade Palestina (AP) lhes garantiu desde 1993, mas desta vez mantendo a sua legitimidade aos olhos do povo. Os imperialistas não reconhecem que o papel da AP como principal colaborador de Israel é precisamente a razão pela qual perdeu legitimidade entre os palestinos. Em vez disso, culpam a corrupção e a má gestão na Cisjordânia e, antes de 2006, em Gaza, como se esta “má gestão“ não estivesse diretamente relacionada com o seu papel de colaboração com o sionismo e os seus aliados ocidentais.

Os Estados Unidos testaram recentemente as propostas de certos Estados árabes e da grande imprensa corporativa anti-palestina. Alguns sugerem um novo governo palestino que incluiria um Hamas desmilitarizado, expurgado do seu compromisso com a luta armada contra o colonialismo. Outros insistem que mesmo que a Autoridade Palestina seja reformada, não haverá lugar para o Hamas.

Após a ocupação britânica da Palestina em Dezembro de 1917, as autoridades britânicas e os seus capangas sionistas começaram a treinar líderes palestinos que colaborariam com os colonos invasores e suplantariam a liderança das Associações Muçulmanas-Cristãs Palestinas (MCA) e a sua luta pela independência nacional.

Na década de 1920, os britânicos e os sionistas estabeleceram dois desses organismos colaboracionistas, incluindo a sectária Sociedade Nacional Muçulmana, que procurava dividir a liderança palestina e minar a MCA. Liderado por uma família proeminente de Jerusalém, o Partido Agrícola foi outro grupo que colaborou com os sionistas para usurpar terras dos agricultores palestinos. Estas organizações foram imediatamente reconhecidas como “traidoras” pelos palestinos e nunca ganharam legitimidade.

Em 1938, os gangues coloniais sionistas e o exército britânico criaram as “Patrulhas da Paz”, uma força mercenária palestina cujos membros começaram a matar revolucionários palestinos em um esforço para suprimir a Grande Revolta Palestina de 1936-1939.

Após a sua criação em 1948, Israel recrutou anciãos das aldeias palestinas (mukhtars) para colaborar com eles. Os mukhtars nunca encontraram legitimidade entre a população palestina cativa, que Israel sujeitou a um regime militar de apartheid de 1948 a 1966. Logo depois da criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1964 e a conquista sionista da Cisjordânia e de Gaza em 1967, Israel tentou novamente recrutar mais colaboradores para deslegitimar a unidade popular, mas falhou. 

Entretanto, o Movimento dos Países Não-Alinhados reconheceu a OLP (dominada pela Fatah, que era o maior e mais bem financiado grupo de libertação palestina) em 1973, tal como a Liga Árabe e a ONU em 1974, como “o único grupo legítimo que representa o povo palestino”. 

No final da década de 1980, no meio da primeira Intifada, a determinação revolucionária da OLP começou a enfraquecer e até concordar em um acordo com o sionismo. Em troca do seu reconhecimento formal por parte de Israel e do Ocidente, a OLP deveria reconhecer o “direito de existir” de Israel como um Estado judeu.

Após vários contratempos, o acordo foi selado em 1993 com os Acordos de Oslo. Isto permitiu à OLP transformar a Autoridade Palestina em subcontratante da ocupação sionista. Como tal, a Autoridade Palestina perdeu toda a legitimidade pouco depois de assumir o poder, exceto entre as elites palestinas que a apoiaram durante algum tempo. Mas mesmo estas elites sociais já não conseguem manter o seu apoio como faziam antes.

O caminho para a traição da OLP dominada pela Fatah começou em Argel, quando a OLP aceitou formalmente a solução de dois Estados em Novembro de 1988. Isto ocorreu menos de um ano após a ascensão, em Dezembro de 1987, do Hamas, cujo diferencial foi a sua evolução em uma ala política e militar e o dinamismo da sua compreensão da natureza de Israel e da sua ocupação. Isto é ilustrado pelas mudanças na sua carta e nas suas declarações sobre a natureza da luta palestina. Ao contrário da OLP, o Hamas e a Jihad Islâmica, formada em 1981, optaram pela resistência contínua. Ambas continuam a ser as duas principais facções palestinas fora da OLP.

Após a redistribuição do exército de ocupação israelense em torno de Gaza em 2005, o Ocidente tentou, através de regimes árabes, integrar o Hamas. O objetivo era transformá-la em uma outra OLP, incitando-a a abandonar a luta nacional pela libertação e independência e a aderir ao “processo de paz” inventado pelos Estados Unidos, cujo objetivo sempre foi consolidar o colonialismo de Israel e derrotar a luta pela libertação nacional palestina. 

As conversações entre o Hamas e a Autoridade Palestina foram realizadas no Cairo. A liderança política do Hamas começou a vacilar na sua oposição total aos Acordos de Oslo e aos procedimentos subsequentes, e decidiu participar nas eleições de 2006 para chefiar a Autoridade Palestina, que operava sob ocupação israelense. O Hamas obteve uma vitória esmagadora, precipitando um golpe contra ele em 2007 pelos Estados Unidos, Israel e Fatah. O golpe foi bem sucedido na Cisjordânia, onde a Autoridade Palestina liderada pela Fatah foi restabelecida, mas falhou em Gaza, onde o Hamas continuou a governar.

Desde 2007, Israel tem levado a cabo múltiplas campanhas de bombardeios para destruir a estrutura do Hamas, ou pelo menos fazer com que abandone a resistência armada e se junte à Autoridade Palestina controlada pela Fatah. Com dúvidas, uma ala política do Hamas participou mais uma vez nas conversações realizadas no Cairo há três anos, em Fevereiro de 2021, e concordou em organizar novas eleições na Autoridade Palestina, que esta última se recusa a organizar desde 2006 por receio de que o Hamas venceria novamente.

Apesar da flexibilidade e das concessões da ala política do Hamas, o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, renegou o acordo e nunca realizou novas eleições. Entretanto, continuou a colaborar (“coordenação de segurança”, como se chama) com Israel e a suprimir qualquer resistência palestina à ocupação sionista.

Um mês depois das conversações no Cairo, em Março de 2021, o atual líder do Hamas, Yayha Al Sinwar, foi eleito para um segundo mandato. Sinwar está próximo da ala militar do Hamas, da qual foi um dos fundadores. Em Maio de 2021, ele disse que o Hamas estava pronto para iniciar conversações com a Autoridade Palestina para “colocar a casa palestina em ordem”. Recusou abandonar a luta armada porque a sua proposta procurava combinar “a resistência armada, a legitimidade das instituições da AP e iniciativas pacíficas no caminho da libertação e do regresso”.

O novo plano do governo colaboracionista do Egipto anunciado no final de Dezembro, apelava a “Um novo órgão governamental composto por palestinos  para supervisionar tanto a Cisjordânia ocupada por Israel como Gaza”. Esta proposta lideraria a reconstrução de Gaza após a guerra e planejaria possíveis eleições futuras para criar um “governo de unidade nacional”.

Devido à oposição israelense e norte-americana, esta parte do plano teria sido: “Removida da versão final de duas páginas da proposta”. Contudo, os Egípcios dizem que “A futura direção palestina precisava de ser discutida durante as negociações com o Egito e deveria ser um elemento crucial de qualquer acordo”.

A corrupta Autoridade Palestina saudou o plano egípcio, com o Primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh dizendo que “Qualquer proposta sobre a direção futura na Cisjordânia e na Faixa de Gaza não deve ignorar a Organização para a Libertação da Palestina, reconhecida internacionalmente”. A súbita ressurreição da moribunda OLP pela Autoridade Nacional Palestina é muito “notável”, dado que foi a própria Autoridade Palestina como parte da Estratégia de Oslo, que destruiu a antiga Organização que estava voltada para a luta armada contra o sionismo.

Na verdade, foi recentemente relatado que mensagens não oficiais enviadas por Mahmoud Abbas ao Hamas e à Jihad Islâmica informavam-nos que as duas organizações poderiam obter cada uma apenas um assento para representá-las dentro da OLP, embora as duas organizações gozem de maior popularidade entre os palestinos do que todos os 11 Facções da OLP combinadas, incluindo a Fatah.

O antigo negociador da OLP, um raivoso anti-Hamas, Ahmad Samih Khalidi, também está pressionando por uma nova direção em um apelo a Israel e aos seus apologistas ocidentais.

Khalidi está consciente de que nenhuma “reforma” da Autoridade Palestina lhe daria legitimidade e que a única coisa que poderia conseguir isso seria a adesão do Hamas: “Quanto ao restabelecimento de uma autoridade política viável na Faixa de Gaza e à reconstituição de uma representação palestina capaz de tomar e manter decisões, o verdadeiro problema é como integrar o Hamas e o seu “espírito de resistência” associado em uma nova Autoridade Palestina em vez de excluí-lo.

Khalidi acrescenta: “Dentro desta Autoridade ou associado a ela, o Hamas poderia ser parte da solução, continuaria a ser um um pólo oposto de atração.” Mas o que Khalidi parece não ter em conta é que se os líderes do Hamas se tornassem outra OLP e reconhecessem o direito de Israel de continuar a ser um Estado colonial de supremacia judaica, o Hamas também desperdiçaria o seu capital de libertação nacional e tornar-se-ia outra desmoralizada “Autoridade”. Khalidi e o círculo mais lúcido da AP teme que: “Em vez de esmagar o Hamas o efeito mais provável da guerra em Israel será revivificar a noção de resistência e lançar as sementes de futuras rebeliões que o Hamas poderá inspirar”.

No Brasil, a Frente Popular, que agrupa desde os pseudos “esquerdistas” do PCO, até os asquerosos direitistas do PCdoB, tem exatamente a mesma preocupação deste setor da AP, por isso Lula pessoalmente tem aconselhado Abbas para tentar uma “renovação pela esquerda, cooptando o Hamas”. A grande questão política diferencial entre estes dois calhordas vendidos, é que Lula não sofre com nenhuma pressão de massas, liderada por uma organização armada e disposta a combater os seus inimigos sem se corromper pelo “canto de sereia” do capital financeiro.