sábado, 23 de janeiro de 2021

10 ANOS DO LEVANTE POPULAR NA TUNÍSIA: MILHARES SAEM ÀS RUAS EXIGINDO A LIBERDADE IMEDIATA DOS 600 PRESOS POLÍTICOS ENCERCERADOS NA LUTA CONTRA A CRISE ECONÔMICA E O TERROR SANITÁRIO IMPOSTO NA PANDEMIA!

Nesta semana, quando se completou 10 anos do levante popular na Tunísia, milhares de pessoas foram às ruas para exigir a libertação de centenas ativistas presos por protestar contra o governo do primeiro-ministro tunisiano, Hichem Mechichi e a crise econômica-social agravada em meio a pandemia. Depois de três noites de confrontos entre a polícia e jovens manifestantes nos bairros mais pobres do país, foram detidos mais de 600 pessoas. Centenas de pessoas protestaram em várias cidades do país, desafiando a proibição de concentrações decretada a pretexto da pandemia. 

Estudantes e trabalhadores ecoaram slogans como “Trabalho, Liberdade, Dignidade nacional", na principal artéria da capital, a avenida Burguiba. Outros manifestantes se reuniram em frente ao tribunal de Tunis para exigir a libertação de jovens detidos nos últimos dias, muitos dos quais são menores. Na Tunísia, o bloqueio destruiu dezenas de milhares de empregos, especialmente no setor chave do turismo, e afetou profundamente a escolaridade das crianças, deixando muitas famílias em ruínas. Um declínio histórico no PIB (-9 por cento) é esperado para este ano de 2021.

Colônia francesa até 1956, a Tunísia foi governada durante 23 anos pelo ditador Ben Ali, que assumiu a presidência em 1987 após comandar um golpe de Estado, instaurando um reacionário regime totalitário contra as massas em um ataque às mais elementares liberdades democráticas no país. Há dez anos, em 2011, Ben Ali foi obrigado a deixar a presidência depois de um mês de protestos populares contra a pobreza em janeiro, o desemprego e a corrupção no gabinete, manifestações duramente reprimidas e que deixaram mais de 80 mortos. 

As radicalizadas manifestações populares na Tunísia, iniciadas com a imolação de um trabalhador em protesto contra o desemprego e as miseráveis condições de vida, repercutiram no chamado mundo árabe e colocaram o imperialismo francês e a Casa Branca em alerta, porque mesmo depois da alas burguesas terem conformado um arremedo de governo de transição na tentativa de estabilizar o país, incluindo no gabinete dirigentes sindicais da UGTT, as mobilizações continuaram tendo em vista o ódio popular contra a manobra que visa manter, com novos gerentes, o velho regime e as dramáticas condições de vida neste país localizado no norte da África. 

Conhecido como Maghreb, o norte da África (Marrocos, Tunísia, Argélia e Sahara Ocidenteal) é fundamental para os interesses econômicos e estratégicos dos EUA e da União Européia, particularmente da França. Possui as maiores jazidas de fosfatos do mundo, além de jazidas de cobre, urânio e ferro.

O caráter espontâneo do movimento ocorrido há dez anos, responsável por seu alto grau de radicalização, revelou tragicamente, por outro lado, a ausência de uma perspectiva revolucionária que tenha como norte a tomada do poder pelos explorados. As condições políticas e sociais de esgotamento da ditadura levaram a fuga de Ben Ali. Mas, a questão colocada ontem e hoje é quais são os próximos passos a tomar. 

A ausência de um partido revolucionário com peso de massas e de um programa marxista para os combates em curso são as lacunas fundamentais que limitam os horizontes da luta, produto da etapa contra-revolucionária em que vivemos desde a queda da URSS. 

Por mais radicalidade e heroísmo das massas, como vemos agora na Tunísia, a inexistência de um norte comunista estratégico é um bloqueio subjetivo e objetivo para a vitória sobre as mais diversas variantes burguesas que se apresentam no tabuleiro no curso destes 10 anos. 

Na época, longe de querer enxergar essa dura realidade, o PCO, em seu já delirante catastrofismo declara que “A Tunísia à beira da revolução” (sítio Causa Operária, 14/01/2011) e, portanto, “Todos os acontecimentos do último mês mostram que atual crise capitalista faz a situação política mundial caminhar a passos largos no sentido da revolução proletária”. A CMI de Alan Woods vendeu o enredo no mesmo tom “Há mais de uma semana a Tunísia está vivendo uma revolução de dimensões épicas que acaba de derrubar o ditador Zine al-Abidine Ben Ali depois de 23 anos no poder” (Esquerda Marxista, 18/01/2011). Apesar disso, Woods defende ucomo alternativa para “avançar a rebelião” a “convocação de uma Assembleia Constituinte Revolucionária”. 

Estes revisionistas, mais uma vez, buscaram por revoluções espontâneas em cada esquina como um produto “natural” do crash financeiro de 2008 e da própria crise capitalista mundial. Desprezaram a debilidade ideológica das massas, a ausência de organizações revolucionárias marxistas com peso social e a própria etapa por que atravessamos, marcada pela tendência à fascistização dos regimes políticos nos países avançados, pelas sucessivas derrotas econômicas na Europa (Grécia, França, Portugal, Espanha, Irlanda...) e por lutas defensivas que têm como horizonte limite a manutenção de conquistas atacadas pela ofensiva do capital.

Os arautos da revolução iminente defenderam em 2011 na chamada "Primavera Árabe" para a realidade criada por seus próprios delírios, saídas burguesas como a Assembleia Constituinte e eleições, mas nunca defenderam a necessidade do armamento operário e muito menos a criação de organismos de poder proletário para se tomar o poder! 

Os que venderam o conto da revolução se refugiaram na defesa de uma Constituinte “vermelha” para, sob essa cortina-de-fumaça, não levantarem as consignas próprias e necessárias de um verdadeiro processo revolucionário: greve geral política, ocupações de fábricas e terras, milícias operárias armadas, organismo de duplo poder para derrubar a ditadura e abrir caminho para um Governo Operário e Camponês. 

Como farsantes, enxergaram uma revolução em cada manifestação de massas, mas fugiram naquele dias das medidas necessárias para sua vitória se ela de fato estivesse na ordem do dia!

O MRT, tentando encobrir os revezes que o proletariado sofreu no último período pós-crash, devaneou sobre a Tunísia em tom ufanista “A ausência de uma ferramenta política de organização revolucionária para os trabalhadores tunisianos não significa que a história girará mais lentamente ou retrocederá para as massas oprimidas nacionais” (sítio LER, 12/01/2011). Como não vivemos nos entorpecendo, como faz o PTS argentino, e muito menos patrocinando ilusões na vanguarda, alertamos que na Tunísia se concretizou a tendência que a ordem burguesa fosse restaurada e não colocada abaixo pela via revolucionária e insurrecional. Não por acaso nesta semana ocorreu o protesto contra os 600 presos políticos

Frente a esse quadro dramático deve-se organizar uma greve geral política, com ocupações de terra e fábrica, chamar ao armamento operário e que essas ações tenham como norte estratégico a luta por um Governo Operário e Camponês.

A classe operária é a única força social capaz de enterrar o antigo regime em bancarrota. O proletariado deve se colocar à cabeça das manifestações com um programa revolucionário que supere as manobras tramadas pelos dirigentes da UGTT e os demais partidos burgueses, apontando uma saída independente dos trabalhadores da cidade e do campo. Devemos lutar para que não se repita na Tunísia mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os interesses capitalistas no país. Para as massas, que lutaram há 10 anos contra Bin Ali e agora voltam as ruas contra governo do primeiro-ministro tunisiano, Hichem Mechichi, cabe construir uma alternativa política independente dos bandos burgueses, forjar um autêntico partido revolucionário marxista e marchar com independência política pela senda do combate de classe pela revolução socialista.