QUAL A RESPOSTA OPERÁRIA DIANTE DO FECHAMENTO DAS FÁBRICAS DA FORD NO BRASIL? LUTAR PELA ESTATIZAÇÃO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES! NENHUM EMPRÉSTIMO E SUBSÍDIO PARA MONTADORAS! NÃO A CONCILIAÇÃO DOS SINDICATOS COM PATRÕES!
A Ford encerrou suas atividades após mais de 100 anos de sua instalação no Brasil. Depois de mais de um século explorando os trabalhadores do país e recebendo empréstimos e subsídios milionários estatais, apoiar a ditadura militar e abocanhar 20 bilhões de reais em isenção fiscal nas últimas décadas, a montadora ianque decide que deixará dezenas de milhares de operários desempregados e muitos mais trabalhadores no olho da ruia nas concessionárias de venda de seus veículos e empresas de autopeças da cadeia produtiva porque não está lucrando o suficiente.
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Para se instalar em Camaçari (BA), a empresa recebeu todos os tipos de isenção fiscal, terrenos dos governos burgueses nas três esferas, desde 1999 com FHC, passando pelo governo Lula, que prorrogou os incentivos fiscais a Ford posteriormente. Apesar de todo esse histórico de rapina aos cofres estatais agora, a montadora ianque decide de forma unilateral ir embora e jogar milhares de pais e mães de família na rua.
Essa derrota imposta pela patronal teve a cumplicidade direta da burocracia sindical da Força Sindical, CUT e da direção lulista do PT que em nenhum momento convocou desde o fechamento da planta no ABC em 2019 a greve com ocupação de fábrica e, muito menos, mobilizou por uma paralisação nacional de toda a categoria para impor o controle da unidade pelos trabalhadores, exigindo a estatização da empresa sob o controle operário. Agora a burocracia cinicamente diz que “Mesmo não podendo entrar mais na empresa, a categoria na Bahia e em Taubaté foi até a porta das fábricas para as assembleias, coordenadas pelos sindicatos dos metalúrgicos de cada região, e decidir os próximos passos da luta” (site CUT, 12.01)
O que se viu antes no ABC paulista e agora em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) foram chamados dos burocratas sindicais “para pressionar o BNDES e os governos” com o objetivo de financiar empréstimos milionários para outras montadoras transacionais assumirem as plantas das Ford e manterem fortes subsídios para empresas como GM, Hundai, etc.
A expropriação de todo capital da empresa no Brasil seria o mínimo a ser feito, a ocupação de todas as plantas pelos trabalhadores já deveria ter ocorrido e chamada pelos sindicatos sob o eixo de luta de estatização da transnacional ianque sob o controle dos trabalhadores.
Longe disso, Lula, a CUT, Freixo (PSOL) e Ciro Gomes, ou seja, a chamda "Frente Ampla" defendem que a saída da Ford não tem nada a ver nem com a crise capitalista, nem com as medidas gerenciais de suporte às taxas de lucro com o enxugamento dos gastos com salários, todos defendem que o Estado burguês deveria dar mais incentivos fiscais e mais flexibilização trabalhista para a Ford ficar no Brasil.
Como explicou o Blog da LBI, o “Grande Reset” da economia capitalista mundial já está em pleno andamento, e ao contrário do que afirma a esquerda reformista não é uma “invenção da cabeça dos paranóicos”, é um fato concreto também comprovado no Brasil pelo fechamento das atividades industriais da multinacional Ford, após mais de um século de atividades no país. A resolução de finalizar as linhas de manufaturas brasileiras segue uma reestruturação dos negócios na América do Sul (saudada pelo presidente argentino da centro-esquerda, Alberto Fernandez), que tende a impactar setores estratégicos da classe operária em todo o continente latino-americano.
Esta medida da Ford faz parte de um plano de reestruturação da companhia que procura reduzir seus custos de produção, a fim de manter e ampliar sua taxa de lucro. Faz isso demitindo, fechando fábricas e jogando nas costas dos trabalhadores o peso desta reestruturação. A GM iniciou anos atrás esta ofensiva e vem sendo seguida por todas as grandes montadoras globais. A Mercedes também anunciou o fechamento da sua unidade no interior de São Paulo, e a Volks anunciou recentemente o corte de 35% de seu efetivo através de um Programa de Demissão Voluntário (PDV), que de voluntário não tem nada.
Lembremos que em fevereiro de 2019, a política de traição da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, controlada pela burocracia lulista, mandou os operários para casa diante do anúncio do fechamento da Ford de São Bernardo. Depois, longe de deflagrar a greve geral contra ocupação da fábrica, aprovaram a ida de uma comitiva de burocratas aos EUA para “dialogar” com os patrões da multinacional ianque.
O objetivo seria apresentar propostas contra o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, tudo não passou de uma encenação para facilitar a vida da multinacional, voltada a não convocar a luta direta dos operários, que exigiria a mobilização de toda a categoria metalúrgica e a ocupação imediata da empresa, exigindo a sua estatização sob o controle dos trabalhadores.
Agora acontece a mesma coisa com a burocracia sindical exigindo
que Bolsonaro, Dória e Rui Costa financiem as transnacionais e tentem trazer
novas montadoras para o Brasil, liberando empréstimos e subsídios, reclamando
que os governos são “negligentes” em apoiar as grandes empresas capitalistas. Como
se observa, a Frente Popular, a esquerda domesticada pela pandemia e as direções sindicais fazem uma
crítica à direita dos governos burgueses, exigindo que eles doem as verbas
estatais diretamente para as grandes empresas capitalistas.
O balanço a se fazer é que política da Força, Sindical, da CUT e do PT está na contramão das necessidades dos trabalhadores, optaram sempre por tentar pactuar com a patronal em detrimento aos interesses operários, alimentando ilusões distracionistas entre os explorados. No ABC chegaram mesmo a apresentar o playboy neoliberal, governador João Dória, como aliado na luta contra o fechamento da Ford, como escandalosamente afirmou a nota da CUT nacional “Vamos à matriz discutir com a direção mundial, conversamos com prefeito da cidade. Não vamos desistir de manter uma empresa com essa importância em nossa região. Esperamos ainda que a empresa reveja sua decisão e que os governos estaduais, municipais e federal cumpram com suas obrigações, atuando para negociar com a companhia e impedir a demissão imediata de 3.200 trabalhadores” (Rede Brasil Atual, 21.02.2019).
A política de enrolação da diretoria sindical pelega foi tamanha que no início de fevereiro de 2019, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, entregou ao vice-presidente de Bolsoanaro, o general Hamilton Mourão, documento em defesa do setor industrial, reivindicando do Palácio do Planalto uma política para o setor “que contribua efetivamente com o desenvolvimento do país, articulada com as necessidades de superação dos gargalos econômicos e sociais, de modo a distribuir seus ganhos entre toda a sociedade e posicionando o Brasil entre as principais economias industriais do planeta” (Brasil de Fato, 26.02.2019).
O mais vergonhoso é que correntes como o PCO, corrompidas até a medula, ainda aplaudiram as manobras traiçoeiras da burocracia lulista, apresentando-as como “importantes medidas de luta”. Como alertamos no último período, é preciso dotar as lutas de uma estratégia revolucionária, para isso faz-se necessário superar a política de colaboração de classes da FS, CUT e do PT, caso contrário, novas derrotas como o fechamento das fábricas da Ford, das agências do BB vão se repetir seguidamente!
Para barrar as demissões em massa é necessária, desde já, uma mobilização nacional, unitária e centralizada dos trabalhadores, baseada num programa operário e anticapitalista, capaz de defender os empregos através da greve com ocupação de fábrica. Para vencer, o proletariado precisa superar as direções sindicais.
É preciso rechaçar as demissões, convocar pela base uma assembleia e deflagrar a greve com ocupação de fábrica, chamando a solidariedade de toda a categoria. É hora de resistir usando os métodos de luta da classe operária! Para a vanguarda classista e revolucionária este é o momento certo para apoiar fortemente a luta dos operários da Ford com toda solidariedade política e material e construir uma verdadeira oposição classista alternativa aos pelegos da CUT!
Neste momento o programa de luta é a escala móvel de
salários, onde os contratos coletivos de trabalho devam assegurar aumento
automático dos salários, de acordo com a elevação dos preços dos carros e a
escala móvel por horas de trabalho, para absorver a mão de obra metalúrgica
desempregada. Ao mesmo tempo defendemos uma campanha nacional em solidariedade
a luta dos operários para o cancelamento das demissões. Estatização da empresa
sob controle dos trabalhadores e sem nenhuma indenização. Para que esta luta
possa vencer é necessário superar a política de colaboração de classes dos sindicatos.
É fundamental para enfrentar a ofensiva dos patrões a retomada dos métodos de luta e ação direta, com assembleias massivas democráticas e greves para fazer avançar a consciência política da classe, a fim de aumentar o potencial de combate contra os seus inimigos de classe que têm imputado derrotas econômicas, sociais e políticas aos trabalhadores!