SETE ANOS DOS PROTESTOS GOLPISTAS “EUROMAIDAN” NA UCRÂNIA: ORGANIZADOS PELA CASA BRANCA & CIA... APOIADOS PELOS REVISIONISTAS DOS TROTSKISMO
Há exatamente sete anos, em janeiro de 2014, os
acontecimentos na Ucrânia conhecidos como “Euromaidan” deram um salto de qualidade
e ganharamm contornos de guerra civil. A oposição pró-União Europeia (UE) atuava em
unidade com bandos fascistas para derrubar o governo do presidente Viktor
Yanukovich, aliado da Rússia de Putin. Além das barricadas erguidas na Praça da
Independência (em referência ao desligamento do país da antiga URSS), hordas de
manifestantes ocuparam o Ministério da Justiça e exigiram eleições já, buscando
assim dar um verniz democrático à ofensiva reacionária. Na verdade, esses
grupos de direita patrocinados pelo imperialismo ianque e europeu desejavam de
fato a mudança completa do conjunto do regime político, para impor em Kiev uma
marionete alinhada servilmente aos interesses dos grandes monopólios.
Na defensiva diante da pressão das potências capitalistas
ocidentais e da OTAN, Yanukovich tentou desesperadamente um acordo para formar
um gabinete de “unidade nacional”, já que em 28 de janeiro de 2014, o
primeiro-ministro Nicolai Azarov renunciou demonstrando claramente que a
oposição pró-imperialista ganhou terreno. Ocorreu que os grupos fascistas
resistem até mesmo a esta vergonhosa “fórmula de transição” e desejavam a queda
imediata do governo, no que foram alimentados pela Casa Branca e Bruxelas.
Como resposta limitada, manifestantes pró-governo cercaram a
embaixada dos EUA em Kiev exigindo o fim da violência e a responsabilização dos
insufladores do conflito. Desde a LBI, que denunciamos as manifestações
reacionárias na Ucrânia de novembro de 2013, chamamos a formação de milícias
operárias, camponesas e populares em todo o país para enfrentar a ofensiva
fascistizante, atuando em unidade de ação com as forças políticas que apoiam o
governo nacional. Viktor Yanukovich vem se mostrando cada vez mais incapaz de
levar consequentemente este combate, tanto que colocou nas mãos do parlamento
burguês uma saída negociada para a crise, enquanto aguarda de fato o desfecho
das negociações de cúpula entre a Rússia e a UE que ocorrem nestes dias.
Nossa resposta era chamar a mobilização os trabalhadores
para derrotar a reação fascistizante pró-União Europeia! Por uma frente única
de ação com o governo Viktor Yanukovich! Na barricada desta luta e sem
patrocinar ilusões no governo burguês e no próprio apoio da Rússia de Putin a
Yanukovich, chamamos os trabalhadores da cidade e do campo que sabem que seus
direitos estavam com os dias contados se houvesse a incorporação a UE a defender
uma Ucrânia soberana e socialista!
Os dois principais partidos da oposição conservadora, o Bloco Nossa Ucrânia/Autodefesa Popular (de Viktor Juscenko) e o Partido da Pátria/Bloco Eleitoral (de Julia Tymosenko), decidiram enfrentar diretamente o presidente Viktor Yanukovich e o então primeiro-ministro Nicolai Azarov após o presidente anunciar na televisão que o governo havia finalizado as negociações com a União Europeia, postergando, mais uma vez, a eventual entrada no bloco dos países europeus e se aproximando novamente da Rússia.
Além disso, Viktor Yanukovich ressaltava que era mais conveniente em termos econômicos e geoestratégicos para a Ucrânia reforçar o relacionamento com a Rússia. Para os líderes da oposição, Viktor Juscenko e a riquíssima Julia Tymosenko – que, oficialmente, continuava presa por fraude à receita – esta foi a grande ocasião para obrigar o presidente Viktor Yanukovich a demitir o primeiro-ministro e consequentemente, promover novas eleições.
Tratou-se de uma espécie de ruptura
institucional, que deveria repetir o golpe branco de 2004, chamado de
“Revolução Laranja”, que ocorreu com a direta sustentação dos serviços secretos
dos EUA e dos principais países da União Europeia, nomeadamente: Alemanha,
França, Grã Bretanha e Países Baixos. Aliás, é pública a estreita ligação da
CIA com a líder do Partido da Pátria/Bloco Eleitoral, Julia Tymosenko, e o
envolvimento da Freedom House em sua campanha, bem como o uso de fundos
secretos para comprar os votos a favor de seu partido.
Depois da Rússia, a Ucrânia é a nação mais densamente povoada da região – com cerca de 46 milhões de habitantes, dos quais um terço de etnia russa – e com mais centrais nucleares (11) construídas pela então União Soviética. O então presidente Viktor Yanukovich assinou com a Rússia um novo protocolo para a construção de mais 12 centrais nucleares, além de ampliar o acordo para o fornecimento do urânio enriquecido. Um negócio que, juntamente com o fornecimento do gás, é o cerne das opções geoestratégicas do antigo governo da Ucrânia, a partir do momento em que foi a empresa russa Gazprom que construiu na Ucrânia todos os terminais de distribuição para abastecer os países europeus. Por isso, o governo de Kiev pagava o gás a preço de favor (50 dólares em vez de 230 dólares por mil metros cúbicos). Por outro lado, na Ucrânia havaim muitas empresas russas de aviação, metalúrgicas e mineração que os oligarcas ucranianos pretendiam nacionalizar para depois privatizar com a ajuda de transnacionais ocidentais.
Um processo que se iniciou, em 1996, para depois se expandir no ano 2000 quando Viktor Yanukovich foi presidente e Julia Tymosenko se assenhoreou do cargo de primeira-ministra – até ser demitida. Paralelamente, a decisão do Departamento de Estado ianque de apoiar a fraudulenta aventureira Julia Tymosenko foi consequência política da necessidade de os EUA ampliarem sua influência geoestratégica na Ucrânia e, portanto, estar cada vez mais perto da região do Cáucaso, onde a Geórgia, a Ossétia do Sul, a Inguchétia e a Abcásia querem romper com o protecionismo da Rússia para negociar com as transnacionais do Ocidente seu potencial de gás e de petróleo.
Nesse contexto, somente um governo pró-imperialista, tal como Viktor Jankovic e Julia Tymosenko propunham, poderia exigir da Rússia a saída da base naval de Sebastopol e entregá-la à OTAN.
Neste contexto dramático, o primeiro-ministro da Ucrânia, Nicolai Azarov, submeteu o seu pedido de demissão à Presidência. Segundo Azarov, seu passo reflete uma tentativa de acabar com a atual crise política no país (com a investida violenta da direita) de forma negociada: “Para criar possibilidades adicionais de compromisso social e político, para uma solução pacífica para o conflito, eu tomei a decisão pessoal de pedir ao presidente ucraniano que aceite a minha demissão do cargo de primeiro-ministro”, afirma a declaração de Azarov. O líder do partido Udar, da oposição, Vitaly Klitchko, que também tem incitado as massas nas ruas contra o governo e as forças de segurança disse que o pedido de demissão do premiê foi um passo para “salvar a pele”: “Hoje, a questão da demissão do governo e a sua responsabilidade estão na agenda”, disse Klitchko, citado pela agência de notícias Interfax-Ucrânia. “Estou certo de que a demissão [de Azarov] guarda algo por trás. Ele sabe que fez de tudo para salvar a sua pele.” Para Klitchko, a decisão do premiê é “um passo em direção à vitória” da oposição.
Por pressão da Rússia, o governo da Ucrânia se recusou no último minuto a assinar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE). Uma série de condições humilhantes tornava a Ucrânia uma moribunda semicolônia dentro da UE, apesar do atual presidente da antiga república soviética ter aceitado (inicialmente) colocar parte da infraestrutura do país a serviço dos grupos capitalistas europeus, inclusive os gasodutos russos que passam por seu território e que abastecem a Europa.
Frente ao recuo do presidente Viktor
Yanukovych na assinatura do tratado, manifestações tomaram as ruas da capital
do país, Kiev, no que a mídia “murdochiana” descreveu como a segunda etapa da
“revolução laranja”, referindo-se aos protestos que levaram o país em 2004 a se
distanciar da Rússia e se aproximar dos EUA e da UE, processo que foi
interrompido com a ascensão de Viktor Yanukovych ao governo, homem próximo a
Vladimir Putin. A oposição pró-imperialista exige a realização de eleições
presidenciais e legislativas antecipadas e a demissão do presidente, mas a
disputa já entra no terreno da guerra civil. Qualquer similaridade com o que
ocorreu na Líbia e está em curso da Síria não é mera coincidência...
Esta reação ocorreu porque o presidente ucraniano decidiu em novembro que mesmo depois de seis anos de negociações e preparações, a associação com a UE não poderia se concretizar porque seria um passo muito doloroso para a economia nacional. Ele também falou sobre as condições draconianas ditadas pelo FMI (cujas negociações foram fracassadas) sobre um empréstimo de 830 milhões de dólares necessários para assegurar a transição para as normas europeias e requisitos técnicos, que exigiam privatizações, cortes de salários e controle fiscal extremo. O tratado com o FMI inclui rebaixamento de salários e congelamento de pensões, aumento do preço do gás, fim dos investimentos no setor agrícola e de energia, o que seria um fardo pesado demais para a vida dos ucranianos. Yanukovych enfatizou, no entanto, que não descarta que o acordo poderia ser assinado em um futuro próximo, o que desatou a onda de protestos incentivados pela UE.
Na verdade, pelo grau de crise em outros países da UE, como Grécia, Portugal, Itália, o FMI foi mais duro com a Ucrânia. Até então aos novos membros e os países candidatos à adesão da UE foram concedidos empréstimos de longo prazo, algo que foi oferecido à Ucrânia. A situação de enorme pobreza do país, produto da restauração capitalista oriunda da liquidação contrarrevolucionária da URSS, levou um terço de sua população de cerca de 5,3 milhões de habitantes a viver abaixo da linha de pobreza. As dramáticas condições de vida e o descontentamento com a corrupção generalizada foram os móveis para a crise atual, em que a UE visa tirar o máximo de proveito possível tentando retomar sua influência sobre o país, processo que a Rússia deseja barrar.
O então líder stalinista do Partido Comunista da Ucrânia, Petro Simonenko enviou uma carta aberta ao presidente de República Viktor Yanukovich denunciando as forças oposicionistas que têm provocado distúrbios no país, e a ingerência de potências estrangeiras. De acordo com Simonenko, “os atuais acontecimentos na Ucrânia, o sério agravamento dos enfrentamentos na sociedade ucraniana entre os apoiadores da integração europeia e os que a isto se opõem, levaram a desordens em massa, ao bloqueio de órgãos do poder estatal, ao sequestro de edifícios da Administração, à destruição de monumentos históricos”.
Na opinião dos stalinisas ucranianos, tudo tinha causado instabilidade no país e acarreta uma série de consequências econômicas e sociais negativas. “A Ucrânia se encontra à beira da divisão do país e da perda da segurança nacional”, adverte Simonenko destacando que forças estrangeiras têm desempenhado um papel particular no agravamento da situação. Ele denuncia que membros das missões diplomáticas na Ucrânia apoiam abertamente a escalada dos enfrentamentos, respaldam os partidários da integração europeia e aprovam as declarações e os apelos do “líder” da oposição para aumentar o confronto.
O dirigente stalinista denunciou ainda o apoio material de fundações e organizações públicas ou privadas, como a Usaid (Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos), o Open Society Institute, o National Democratic Institute for International Affairs, que sob o pretexto de “defender os valores democráticos”, “apoiar a criação de um espaço informativo”, fomentaram a histeria contra o Estado no espírito de um sentimento antirrusso e instigam a escalada do enfrentamento social no país.
Longe do que pregavam os revisionistas do PCO no passado e o PSTU até agora, os opositores não passavam de velhos aliados do imperialismo e inclusive ex-apoiadores da pretensa “revolução laranja”. Como se constatava, tratava-se de mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os interesses capitalistas na antiga república soviética, cujo governo não conseguiu servir a dois senhores e os novos gestores estãva a vender seus serviços para quem melhor pagar.
Para as massas, que lutaram tanto antes como agora contra a miséria capitalista, produto da restauração capitalista na URSS, cabe construir uma alternativa política independente dos dois bandos burgueses em disputa.
Esta tarefa é algo bem distante da política dos revisionistas do trotskismo que tanto em 2004 como naquele dias saúdam as falsas revoluções patrocinadas pelas quadrilhas burguesas que, apesar dos conflitos conjunturais, têm o único objetivo de rapinar o país e torná-lo um apêndice militar a serviço de seus interesses capitalistas na região.
Estava colocado para o proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, dos EUA e de seus agentes da Ucrânia. Alertamos na época que apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo burguês ucraniano de Viktor Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN na região.
Os revolucionários denunciaram há 7 anos atrás as manifestações dos grupos
pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a fazer na
Ucrânia e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora aos moldes
da que vem sendo operada no Oriente Médio. Nos opomos pelo vértice à política
dos grupos revisionistas que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe”
agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no passado as
“revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão.
Tais “revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da
restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje
convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais, quando o
imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda estavam
sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas
privilegiadas com a Rússia.
Hoje a Ucrânia foi
convertida em uma base miliar do imperialismo, uma realidade que tomou grande
impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych como o
“adversário” indesejado a ser removido do governo! Somente os genuínos
trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário”
imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam
o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres
multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão
autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e
russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas
socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas revoluções bolcheviques.