quinta-feira, 23 de setembro de 2021

23 DE SETEMBRO DE 1973: MORRE PABLO NERUDA, O POETA DO STALINISMO CHILENO QUE GARANTIU EXÍLIO A SIQUEIROS APÓS SUA TENTATIVA FRUSTRADA DE ASSASSINAR TROTSKY NO MÉXICO

Muitos militantes e ativistas de esquerda admiram a obra poética de Pablo Neruda. Seria “lugar comum” elogiá-la (ainda que criticamente) por suas denúncias das injustiças sociais e a beleza cortante de seus escritos. Como Trotskystas Revolucionários, amantes da arte e da literatura como nos ensinou o fundador da IV Internacional no livro “Literatura e Revolução”, desejamos aqui brevemente abordar no dia da morte de Neruda (23.09.1973) a trajetória política do poeta chileno que foi militante do Partido Comunista, senador pelo Chile e chegou a ser indicado como pré-candidato a Presidente da República pelo PC, se caracterizando como um ardoroso stalinista em toda sua vida política e artística, tanto que fez um poema de ode a Stálin lamentando a morte do dirigente-maior da burocracia soviética em 1953. 

Esse lado da “obra” de Neruda em geral é “esquecido” ou “negligenciado” pela esquerda reformista, que apenas enaltece sua trajetória artística e seu dedicado apoio a Unidade Popular de Allende (PS). Em 1945, Neruda entrou para o Partido Comunista e foi eleito senador no Chile. Em 1948, perdeu seu mandato e passou à clandestinidade, devido às críticas que fazia ao presidente Gabriel González Videla. O escritor e poeta viajou por vários países, na maioria das vezes como exilado político. 

Em 1950, publicou Canto Geral, no México. É uma de suas obras mais importantes sobre os povos da América e suas lutas. Em 1953 recebeu o Prêmio Lênin da Paz da URSS stalinizida. No ano de 1971, Neruda ganhou o Prêmio Nobel de Literatura no lastro de sua figura que simbolizava a defesa da “Paz Mundial”, ou melhor, de coexistência pacífica com o imperialismo. Em 1970, sua imagem e participação política eram de tal importância, que foi indicado pelo Partido Comunista para a Presidência da República. Entretanto, renunciou, capitulando à candidatura frente-populista de Salvador Allende, que ganhou as eleições. Pablo apoiou o governo de Allende até o fim, mesmo quando esse se recusou a conclamar os trabalhadores a resistirem ao golpe militar promovido pelo chacal Pinochet. 

Em 1973, com o assassinato de Salvador Allende, Pinochet assumiu o poder instalando uma ditadura militar. Doze dias depois, morreu o poeta e político Pablo Neruda, sendo possivelmente envenenado pelos agentes da ditadura chilena, usando um método análogo ao que a GPU utilizou na França para assassinar o filho e dirigente da IV Internacional, Leon Sedov. Seu cortejo fúnebre foi o primeiro grande ato contra a ditadura Pinochet. No meio da multidão, as palavras de ordem políticas se somaram às lágrimas da perda. Embora tenha entrado no Partido Comunista Chileno apenas em 15 de julho 1945, a aproximação de Neruda ao PC iniciou-se durante a Guerra Civil Espanhola, a partir de seu posicionamento inicial, antifascista e republicano. Nessa época, Neruda era Cônsul na Espanha. Ele perdeu o cargo de Cônsul, devido a sua aberta participação política na Guerra Civil Espanhola. Nas palavras do próprio Neruda: “Embora eu tenha me tornado militante muito mais tarde no Chile, quando ingressei oficialmente no partido, creio ter-me definido como um comunista diante de mim mesmo durante a guerra da Espanha. Muitas coisas contribuíram para a minha profunda convicção”. A motivação inicial, ainda na Espanha, um misto de revolta pelo assassinato covarde do poeta Federico Garcia Lorca e de solidariedade com a luta do povo espanhol levaram a apoiar a política criminosa do PC na Espanha, de perseguição e eliminação física dos trotskistas, anarquistas e do POUM. Neruda, nem na época da Guerra Civil Espanhola, nem nunca em sua vida, avaliou as táticas equivocadas do PC stalinista e da Internacional Comunista como contribuições da derrota do proletariado local e mundial. Aderiu acriticamente ao stalinismo desde o primeiro momento e nunca aceitou de fato que houvesse uma degeneração do Estado Operário Soviético. Em suas memórias cita Stálin “Eu já tinha tido a minha dose de culto à personalidade no caso de Stalin. Mas naquele tempo Stalin nos aparecia como o vencedor avassalador dos exércitos de Hitler, como o salvador do humanismo mundial. A degeneração de sua personalidade foi um processo misterioso, até agora enigmático para muitos de nós”. A sua idolatria com Stalin como o herói que teria derrotado Hitler, oculta todos os expurgos do PC soviético e a eliminação física dos adversários, como nos processos de Moscou e nos assassinatos dos membros da Oposição de Esquerda do partido, na URSS e ao redor do mundo. Desses crimes, o assassinato de Trotsky no México foi um golpe tremendo no proletariado internacional e sua organização, principalmente na recém fundada IV Internacional. Embora não tenha participado nem do atentado comandado pelo pintor David Alfaro Siqueiros em maio de 1940 ou do assassinato em 20 de agosto do mesmo ano por Ramón Mercader, Neruda nunca condenou essas ações. Ao contrário usou sua condição de cônsul para conseguir asilo político em 1941 a Siqueiros no Chile, em um acordo com o governo mexicano e chegou a defender o assassinato publicamente como uma necessidade histórica. Em resumo, as qualidades poéticas de Neruda não encobrem sua trajetória política de agente “iluminado” do stalinismo, ainda que no final da vida ele tenha tenuemente esboçado uma crítica a apologia que ele mesmo fez do dirigente soviético sem, no entanto, se autocriticar de ter apoiado por toda vida a orientação criminosa de Stálin e muito menos de ter avalizado a política de colaboração de classes do PC no Chile que pavimentou o caminho para o golpe militar e a ditadura de Pinochet!