sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ARROCHO SALARIAL, DEMISSÕES E INFLAÇÃO: RENDA DOS TRABALHADORES ENCOLHE ANO APÓS ANO ENQUANTO CAPITALISTAS ENGORDAM SEUS LUCROS

O rendimento médio dos brasileiros com algum tipo de ocupação está encolhendo e atingiu o valor mais baixo desde 2017. A renda média real do trabalho ficou em R$ 2.433 no 2º trimestre de 2021, o que representa uma queda de quase 7% na comparação com o mesmo trimestre de 2020 (R$ 2.613) já descontada a inflação do período. Esses dados são expressão da crise capitalista, onde a burguesia concentra renda e expande seus lucros enquanto os trabalhadores sobrevivem super-explorados e na miséria.

Os números integram levantamento elaborado pela consultoria IDados, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do segundo trimestre nos últimos 40 anos, e considera a renda real habitual da ocupação principal do trabalhador. Ou seja, valores já descontando a inflação.

Embora a renda média ainda esteja em nível semelhante ao do valor pré-pandemia, um achatamento ainda maior ao longo dos próximos meses é dado como inevitável em razão do elevado número de desempregados em busca de uma oportunidade e pela retomada dos setores que concentram as remunerações mais baixas.

Segundo os últimos números divulgados pelo IBGE, o aumento do número de ocupados no país tem sido puxado pelo trabalho por conta própria, também chamado de bico quando o pessoa não atua como microempreendedor individual (MEI) formalizado.

Ao término do 2º trimestre, o Brasil ainda tinha menos 6,7 milhões de pessoas com algum trabalho na comparação com o período pré-Covid – eram 94,5 milhões trabalhando em dezembro de 2019 e são 87,8 milhões agora.

O estudo do IDados mostra também que o setor de serviços tradicionais, que inclui os restaurantes, o setor de lazer e os serviços doméstico atividades – além de ter sido o mais afetado pela pandemia – é o que possui uma das menores rendas médias, perdendo só para a agricultura.

De acordo com os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia, o salário médio de admissão em julho no país foi de R$ 1.802, o que corresponde a uma redução real de -R$ 22,72 na comparação com junho. O IDados projeta que a taxa de desemprego deverá se manter acima de 12% até o final de 2022, podendo ficar acima de 13% dependendo do agravamento da crise hídrica e da piora das expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto), inflação e taxa de juros.

Com a disparada da inflação, que atingiu atingiu 9,68% no acumulado em 12 meses, até mesmo a renda daqueles que estão empregados e que tiveram algum reajuste salarial tem caído em termos reais. Segundo o boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), 50,5% dos acordos e convenções coletivas realizadas no país entre janeiro e agosto resultaram em reajustes abaixo do o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado até a data-base. A pesquisa mostra que apenas 22,1% das negociações resultaram em ganhos reais e que 27,3% dos reajustes empataram com o INPC.

Em agosto, o reajuste mediano ficou 1,4 pontos percentuais abaixo do INPC e apenas 9,5% das negociações resultaram em ganhos reais. 

A inflação projetada para as próximas datas base tende a se manter perto dos 10%, comprimindo o espaço para ganhos reais. A renda média mais baixa também significa menos dinheiro circulando na economia e um menor consumo das famílias, componente fundamental para a retomada da economia. Segundo o IBGE, a massa mensal de rendimentos do trabalho somou R$ 215,5 bilhões em junho, se mantendo 1,7% abaixo (menos R$ 3,8 bilhões) do patamar de junho de 2020.

Ao final do 2º trimestre, 28,5% dos domicílio brasileiros sobreviviam sem nenhuma renda de trabalho, contra uma taxa de 25% no pré-pandemia, segundo o Ipea, evidenciado a recuperação lenta da ocupação e da economia.