ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS PERU: ENTRE A EXTREMA DIREITA E UM CANDIDATO “MARXISTA LENINISTA” COM MUITAS INCÓGNITAS
No próximo 6 de junho, será realizado o segundo turno das eleições presidenciais no Peru. A disputa pela gerência central será entre o professor rural Pedro Castillo, que diz reivindicar o Marxismo Leninismo, obtendo 18,5% dos votos, e Keiko Fujimori, neofascista e filha do ex-presidente golpista que obteve 14%. 45% do eleitorado peruano não votou em nenhum dos 18 candidatos presidenciais no primeiro turno. As eleições estão ocorrendo na fase do maior terror sanitário da pandemia. A mídia corporativa nacional, anuncia que junto com o Brasil, os dois países são o epicentro do coronavírus latino-americano. A eleição foi uma grande surpresa nacional e internacional. Ninguém esperava uma vitória do professor rural Castillo, pelo partido “Peru Libre”.
Pedro Castillo ficou conhecido em 2017 por ter liderado uma
greve de professores que durou dois meses e teve alcance nacional. Os
professores se opuseram a uma avaliação regular se o Ministério da Educação não
aprovasse um aumento salarial e melhores condições de trabalho. A greve foi brutalmente reprimida pela
polícia e teve um grande impacto social. Castillo mistura, ao gosto midiático,
ideias populistas e anticorrupção. Pedro prometeu que, se for presidente,
manterá seu salário de professor. Além disso, ele garantiu que vai cortar pela
metade o salário de deputados e ministros, economia que pretende investir em
educação.
O dirigente sindical concorreu pelo partido Peru Libre,
presidido por Vladimir Cerrón, médico formado em Cuba, governador da região de
Junín e condenado a quatro anos de prisão (sentença suspensa) por corrupção.
Ambos prometem a nacionalização do gás
de Camisea, principal depósito desse combustível no sul do Peru, e defendem as
empresas estatais que Fujimori eliminou no início da década de 1990. O partido
de Pedro, é forte opositor do direito ao aborto, ao casamento homoafetivo e a
tudo o que tem a ver com os novos direitos que surgiram na última década.
A candidatura de Castillo acabou tirando votos de Verónika
Mendoza, uma referência da esquerda peruana.
Verónika focou sua campanha em uma agenda de direitos sociais, incluindo
os da população LGTB, a defesa do meio ambiente, maior acesso à saúde e
educação e demais questões de gênero, colhendo 8% dos votos no primeiro turno,
com votos importantes em um setor da juventude e da classe média de Lima, mas
caiu drasticamente no interior do país. A esquerda reformista liderada por
Mendoza provavelmente apoiará Castillo no segundo turno, embora a posição
reacionária, contra os direitos civis, possa incliná-la a anular a votação. A
transição eleitoral no Peru não tem a ver apenas com os candidatos em conflito,
mas com a própria governança capitalista, submetida a uma profunda
instabilidade institucional. O escritor Vargas Llosa, personalidade mundial peruana,
chamou para votar em Keiko Fujimori, com plena admissão de sua trajetória
fascista.
Castillo tem ideias que se chocam com as posições
tradicionais da esquerda e de qualquer democrata burguês da atualidade.
Adversário do aborto legal e do casamento gay, ele também foi um líder
“rondero”. As rondas Cajamarca foram
fundadas por camponeses em meados da década de 1970 para se livrar dos ladrões
de gado - os ladrões de gado - e se tornaram um sistema de administração de
justiça paralelo ao tradicional. O chicote é uma das ferramentas dos ronderos.
O candidato se ofereceu para transferir essa experiência de“justiçamento” para
o combate ao crime. Isso o torna um candidato Fujimori em potencial. Também tem
uma analogia com Pol Pot, um líder camponês no Camboja que esvaziou as cidades
de sua população para recuperá-las socialmente. “Vamos convocar as rondas
camponesas para organizar os bairros e chamar os reformados das Forças Armadas
e os reservistas para consolidar uma força única”, definição conservadora que dá
uma pequena ideia do que pensa o suposto “marxista leninista”.
Os "ronderos" lutaram contra os guerrilheiros do
Sendero Luminoso nas décadas de 1980 e 1990 e impediram sua entrada na região
de Cajamarca, de onde vem Castillo. No entanto, a extrema direita peruana acusa
Castillo de ser um agente do terrorismo e de defender que o Peru se torne uma
“nova Cuba ou Venezuela”. Keiko acaba de lançar uma campanha em defesa da
prisão...de Lula no Brasil...
Uma das questões centrais da política peruana gira em torno
da Constituição de 1993 - aprovada após o autogolpe de Fujimori em abril de
1992 - que baniu a regulamentação do Estado na economia. Por exemplo, no Peru
qualquer pessoa pode ter um táxi sem licença, uma linha de ônibus com o trajeto
que escolher, sem nenhuma regulamentação de rotas, o mesmo acontece com a saúde
e educação, totalmente privadas.
Toda o leque progressista peruano defende a Constituição de
1978, que teve grande participação de eleitores de esquerda, e desde então o
problema da Assembleia Constituinte tem sido um dos centros de discussão
política do país. Castillo e Mendoza são partidários da reforma constitucional.
Outros prometeram essa reforma (o ex-presidente Ollanta Humala, entre eles) e
não cumpriram. Castillo agora se
ofereceu para convocar uma Assembleia Nacional Constituinte nos primeiros seis
meses de seu governo e quer que a educação e a saúde sejam "direitos
constitucionais".
O voto “pelo lápis” que identifica Castillo, embora seja de
apenas 19%, expressa a forte decomposição do regime político peruano (os
últimos 10 presidentes do Peru abriram processos criminais por corrupção ou
estão presos). Após o desaparecimento da histórica organização “Apra”peruana,
os partidos políticos nasceram e se dissolveram com uma velocidade surpreendente
como um subproduto de uma imensa crise capitalista.
As pesquisas, do segundo turno, dão a Castillo 11 pontos de
vantagem sobre Keiko Fujimori. O voto em Castillo é forte nos bairros pobres de
Lima, no campesinato peruano e nas comunidades indígenas, se não houver uma
fraude descarada, o populista Pedro ganhará as eleições com o manto de Marxista
Leninista. Entretanto, se tratando do regime político burguês peruano, tudo
pode ocorrer...