O GRANDE RESET: ÚLTIMA TENTATIVA DO RENTISMO FINANCEIRO, “DAVOS”, PARA TENTAR RESGATAR O CAPITALISMO DE SUA AGÔNICA CRISE
O Fórum Econômico Mundial (FEM), quartel general do rentismo financeiro em Davos, lançou o mundo em uma operação muito complexa: O Grande Reset. Como já aconteceu algumas vezes na história humana, hoje o que alguns chamam de "tempestade perfeita" se formou no sistema mundial organizado. Ou seja, às várias crises: econômica, social, geopolítica e ambiental, já existentes e “incluídas no pacote” do atual sistema de capitalismo globalizado (governança mundial), agora se soma a crise sanitária originada pela pandemia de Covid, que como um gatilho, precipita uma crise geral e caótica de todo o sistema do capital.
Para desenhar estratégias e políticas diante de crises como
a atual, há justamente a gama de corporações transnacionais privadas e clubes
de planejamento político da elite financeira que proliferam desde os anos 70,
por meio dos quais a burguesia imperialista promove suas agendas ou novos
“modelos “de capitalismo. Como foi o "Consenso de Washington"
(Friedman), a "Nova Ordem Mundial" (Bresinsky), "A Terceira
Via" (Blair), "As novas economias institucionais" (Stiglitz); ou
agora "The Great Reboot" (Schwab), apenas para citar alguns.
Foi o que aconteceu na 51ª edição do Fórum Econômico
Mundial, realizado na cidade suíça de Davos, entre 25 e 29 de janeiro de 2021.
Lá, seu diretor e fundador Klaus Schwab apresentou a proposta para o Grande
Reset (ou reinício), para tentar reconstruir a economia capitalista de forma
“sustentável” (para a especulação bursátil é claro) após a destruição de
parcelas significativas das forças produtivas através da pandemia de Covid.
Anteriormente, Klaus Schwab e Thierry Malleret haviam apresentado seu livro
“Covid-19: The Great Reset”, publicado originalmente em 25 de setembro de 2020.
Eles também escreveram uma série de artigos que acompanharam o lançamento do
livro. O livro está dividido em três capítulos principais, que fornecem uma
visão geral do futuro pós industrial, sonhado pelo rentismo financeiro. Na
primeira parte, analisa-se o impacto que a pandemia terá em cinco categorias no
nível macro: fatores econômicos, sociais, geopolíticos, ambientais e
tecnológicos. No segundo capítulo seus efeitos são considerados no nível micro,
em setores e empresas específicas. Na terceira e última parte, são propostas
hipóteses sobre a natureza das consequências que podem ocorrer no nível
individual.
Segundo Klaus, coordenador da máfia de Davos: “A pandemia
mergulhou o mundo como um todo, e cada um de nós, nos tempos mais desafiadores
que já tivemos que enfrentar e teremos que enfrentar suas consequências por
anos e muitos as coisas vão mudar para sempre ". Os grandes problemas do
mundo, escreve Schwab seu livro: ”especialmente as divisões sociais, a
injustiça, a falta de cooperação ou o fracasso da governança e liderança
global, estão mais expostos do que nunca, e as pessoas acreditam que chegou a
hora de se reinventarem. Um novo mundo surgirá, cujos contornos nos cabe
imaginar e traçar”.
Para obter um “melhor resultado” para os objetivos do Grande
Reset, diz K. Schwab: “o mundo deve atuar conjunta e rapidamente na renovação
de todos os aspectos de nossas sociedades e economias, da educação aos
contratos sociais e condições de trabalho. Todos os países devem participar,
dos Estados Unidos à China, e todos os setores devem ser transformados, do petróleo
e gás à tecnologia. Em outras palavras, precisamos de uma Grande
Reinicialização do capitalismo!”. Somente os dóceis reformistas domesticados
pelo capital financeiro se recusam a ver, debater e principalmente combater a
Nova Ordem Mundial.
Podemos resumir brevemente a agenda do Grande Reset no
sentido de que ela contempla uma série de reformas necessárias para tentar
resgatar a taxa de lucros, em declínio acentuado na última década. Os cinco
pontos fundamentais do Plano de Davos são: 1) o redirecionamento dos estímulos
fiscais, 2) educação voltada para a tecnologia, 3) promoção do investimento em
tecnologias virtuais alternativas, 4) mudanças nas métricas econômicas e
financeiras, 5) maior compromisso ambiental com redução dos combustíveis
fósseis.
Convergindo todas as reformas no chamado “capitalismo de
stakeholders”, uma espécie de paraíso dos algoritmos que controlam desde o
fluxo de capital no mundo, até os novos meios de informação e relacionamento
social. Mas, se expandirmos um pouco mais o fulcro do nefasto projeto,
observamos que a proposta também inclui: intervenções governamentais de
resgate, consenso entre os agentes econômicos, orientação para o mercado,
aumentos de impostos, redução estatal e reformas trabalhistas, além de uma
ênfase atualizada no papel das tecnologias para uma " economia
"verde".
O mais “engraçado” é que essa proposta surge em uma reunião
da elite mundial do capital financeiro, que em geral é partidária do
neoliberalismo radical. O FEM se destaca como o novo órgão de planejamento e
centralização transnacional das grandes corporações e da burguesia
imperialista. Por isso, vale a pena refletir, a crise da globalização ultra
neoliberal, sem dúvida catalisada pela pandemia, é de tal magnitude que
ressuscitam as teses do capitalismo regulado? Obviamente, a proposta de Schwab
contém uma boa dose de neo-keynesianismo “ornamentado” (chuva de dinheiro) e
“temperado” com uma boa dose de fascismo sanitário (supressão das liberdades
democráticas). A essência do projeto da nova “Globalização Imperialista”, foi
materializada com a própria pandemia, obviamente somente os tolos reformistas é
que acreditam que foi tudo uma “coincidência”.
Se tudo isso for assim, parece necessário fazer alguns
esclarecimentos a respeito do contexto mundial, no qual se verificaria a real
possibilidade de que tais “reformas sanitárias” pudessem ser realizadas. Em
primeiro lugar, não devemos esquecer que o sistema mundial do capitalismo tem
duas facetas muito dinâmicas, que influenciam e determinam de forma decisiva
qualquer processo ou projeto social e econômico relevante. São dois os
elementos principais: globalização e imperialismo. Ambos são tendências
inerentes ao modo de produção capitalista e estão historicamente relacionadas.
Por outro lado, apesar das “mudanças cosméticas”, o Estado imperialista existe,
preserva sua identidade e estrutura, e continua a desempenhar seu papel
histórico na lógica de acumulação do capital mundial. Ao contrário do que
ocorre com a governança global do capital financeiro, um organismo entranhado
nas “sombras” das instituições multilaterais e dos “clubes” fechados da elite
financeira internacional. Por sua vez, a globalização consolidou a dominação da
governança e aprofundou a submissão dos capitalismos periféricos e até mesmo centrais.
Desta forma, as teorias marxistas da globalização econômica capitalista não
devem ignorar o conceito de hegemonia da governança global do capital
financeiro.
Há cerca de cem anos, Lenin contribuiu com a sua conhecida
caracterização do imperialismo, definindo-o como "a era do capital
financeiro e dos monopólios, que transportam para todo o lado a tendência para
o domínio e não para a liberdade"..."O imperialismo é a fase superior
do capitalismo”, afirmou o chefe Bolchevique da Revolução Russa. É verdade, que
a esquerda reformista não concorda com Lenin, se converteu hoje no melhor
“braço de apoio” do rentismo mundial, ao reproduzir com fidelidade canina a
mesma “pauta” do Fórum de Davos. Essa esquerda está completamente morta para a
luta revolucionária, atravessou o rubicão de classe, e como a Social Democracia
na Primeira Guerra Mundial, se entrincheirou no campo do imperialismo contra a
classe operária internacional. Assim como Lenin, na época contando apenas com
sua “pequena” organização proclamou a falência política e ideológica da Segunda
Internacional, os Marxistas Revolucionários estão diante da tarefa estoica da
reconstrução do Partido Bolchevique em escala planetária!