quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

RÚSSIA É UM PAÍS IMPERIALISTA? “TESE” PROPAGADA PELOS REVISIONISTAS PARA JUSTIFICAR “NEUTRALIDADE” NA GUERRA DA UCRÂNIA É UMA RUPTURA COMPLETA COM AS LIÇÕES PROGRAMÁTICAS DO LENINISMO

Diante da guerra na Ucrânia muitas correntes de esquerda, inclusive as que se reclamam trotskistas, defendem a “neutralidade” argumentando a tese revisionista que está em curso uma disputa inter-imperialista entre os EUA e a Rússia. Nada mais falso! Trata-se ao contrário de uma completa ruptura com as lições programárticas nos legada por Lenin.

O cenário de ofensiva imperialista fez ressurgir na Rússia uma geopolítica nacionalista e que hoje funciona como uma barreira de contenção militar aos planos expansionistas da OTAN em toda Ásia e Europa. O neonacionalismo russo sob a direção de Putin não tem nada a ver com uma suposta configuração imperialista do maior país europeu, tem sim um caráter burguês mas está muito longe de uma expansão capitalista para colonizar outras nações, como ocorreu com os EUA e mais remotamente com a Inglaterra ou Alemanha. A Rússia não exporta capitais financeiros para outros países e tampouco possui grandes empresas transnacionais, além do seu gigantesco complexo de gás e petróleo, porém detém uma poderosa indústria bélica, uma antiga herança soviética, que pode fazer "concorrência" ao Pentágono e seus servis aliados. Somente os ignorantes na teoria Marxista Leninista (revisionistas) caracterizam a Rússia restaurada como um país imperialista, para justificar repetidos apoios prestados as agressões da OTAN contra povos e regimes de países semicoloniais. O contemporâneo expansionismo geopolítico e militar russo nada tem a ver com a rigorosa definição Leninista de imperialismo, como sendo a “exportação do capital financeiro por meio da força”, ao contrário é reflexo direto da reação nacionalista da “jovem” burguesia russa, oprimida pelo capital imperialista alemão.

Temos que desmascarar aqueles grupos que pregam o abstencionismo alegando que a Rússia seria um país imperialista ou mesmo um subimperialismo regional. Esta “teoria” ignora ou rejeita os conceitos desenvolvidos por Lenin e Trotsky acerca da impossibilidade dos países atrasados, no período da égide do capitalismo monopolista, tornarem-se economias imperialistas. 

Com a vitória da contrarrevolução na URSS em 1991, e aproveitando o caos dos primeiros anos de restauração capitalista sob o governo Yeltsin com a consequente decadência econômica, política e social da ex-URSS, os EUA avançaram sobre a Rússia e sua zona de influência. 

Com a chegada de Putin ao governo esse curso de desintegração começou a se reverter. Putin estabeleceu um regime que fortaleceu a autoridade estatal, tomou o controle férreo dos principais recursos do país – enfrentando mesmo alguns dos oligarcas que haviam ficado com o botim das privatizações, reconverteu a Rússia de velha potência industrial em um país exportador de petróleo e gás, beneficiando-se amplamente dos altos preços destas matérias-primas e recompôs seu exército. 

Isso levou a que nos últimos anos a Rússia ressurgisse como uma potência regional e que tenta resistir à política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de influência mais próxima, com uma série de iniciativas como a União Alfandegária Euro-asiática, ou subsidiar o preço do gás, embora de nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista: sua economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do gás. 

Não nutrimos a menor simpatia política pelos bandos mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde a contrarrevolução de agosto de 1991, ao contrário, nos postamos ao lado da ala da burocracia stalinista (“Bando dos oito”) que tentou barrar a seu modo torpe esse processo. Porém, não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um nome ainda mais alinhado com a Casa Branca.

Estrategicamente o imperialismo ianque deseja se livrar do staff de ex-burocratas restauracionistas que ajudaram a Casa Branca a liquidar as bases sociais do Estado operário soviético na década de 90 e colocar no comando da Rússia figuras de sua inteira confiança, que sequer se movimentem "defensivamente" como Putin. 

Desde a destruição contrarrevolucionária das conquistas operárias na antiga URSS, o bando restauracionista, inaugurado por Yeltsin, vinha desestimulando qualquer atrito político ou militar com o imperialismo europeu e ianque, neste sentido as parcas manifestações nacionalistas russa eram duramente reprimidas pelo Kremlin. 

Mas a chamada “revolução laranja” ocorrida em 2004 na Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os restauracionistas, era necessário parar de se “agachar” perante os EUA ou se transformariam em mais um “quintal” do imperialismo ianque. 

Neste período este setor estatal já convertido em burguesia russa (a restauração capitalista havia terminado por completo) era comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e simpatizante distante do velho stalinismo. Com o fortalecimento econômico da Rússia no final da década passada, produto das exportações de Gás e Petróleo para a Europa, os projetos da poderosa indústria bélica foram reiniciados, tendo como marco o lançamento do moderno caça Sukhoi, único supersônico do planeta com capacidade de enfrentar os F-18 norte-americanos.

Sua avançada indústria bélica (herança do Estado operário soviético) sofre um duro bloqueio comercial dos EUA, sendo que poucos países tem a “ousadia” para comprar as armas russas, Venezuela e Síria fazem parte deste “seleto” grupo. Como não pode se basear na venda de equipamentos bélicos para acumular divisas cambiais, a Rússia tem organizado sua economia em torno da Gazprom, principal empresa exportadora do país. 

Seria tão estúpido, do ângulo científico do Leninismo, considerar a Rússia imperialista tanto como qualificar politicamente seu atual curso nacionalista burguês de enfrentamento com o imperialismo como “reacionário”.

A história mundial tem demonstrado que a movimentação social de setores das burguesias nacionais podem oscilar politicamente de acordo com a etapa da luta de classes. 

Assim como ocorreu na Líbia, Brasil e agora contra a Rússia, a guerra híbrida do Pentágono avança contra qualquer regime que não se identifique integralmente com os ditames impostos pelos rentistas de Wall Street. 

A palavra final estará com o desenvolvimento da luta de classes e na capacidade do proletariado em derrotar a ofensiva imperialista contra as nações oprimidas.

Os Marxistas Leninistas declaramos que não somos neutros diante do conflito em curso e pode facilmente evoluir para uma guerra convencional nuclear. Estamos na trincheira da Rússia e seus aliados, contra o imperialismo ianque e a OTAN, mantendo a linha programática trotskista de autonomia de ação e críticas da condução de Putin. 

Para vencer o monstro imperialista é necessário colocar em movimento o proletariado russo e de seus irmãos de classe!