132 ANOS DO NASCIMENTO DE JAMES CANNON: UMA TRAJETÓRIA
DEDICADA A CONSTRUÇÃO DO TROTSKISMO NO CORAÇÃO DO MONSTRO IMPERIALISTA
James Cannon nasceu em 11 de fevereiro de 1890, há exatos 132 anos. Foi fundador do PC
(Partido Comunista) nos Estados Unidos sendo expulso desse mesmo partido pelo
stalinismo. Ele foi dirigente da IWW, uma organização sindical que surgiu em
meados do séc. XX, cujo nome em português, Trabalhadores Industriais do Mundo,
já proporcionava uma alternativa classista e internacionalista diante da velha burocracia da AFL (American
Federation of Labor). Dela emergiram os melhores quadros políticos e sindicais da vanguarda
operária norteamericana, muitos influenciados por ideias classistas,
revolucionárias e também anarquistas. Cannon iniciou sua militância de esquerda
no Partido Socialista. Logo começou a militar na IWW e, algum tempo depois,
entrou de cabeça na política. Cannon foi um dos fundadores do PC no calor do
entusiasmo que o triunfo da Revolução Russa de 1917 causou em todo o mundo. Ele
foi dirigente desse partido e participou como delegado no Congresso da
Internacional Comunista (IC), ou III Internacional, em 1922 em Moscou e em
1928, quando recebe as críticas de Trotsky ao programa da IC.
Durante os três primeiros anos, na luta para fundar o Partido Comunista, eles tiveram que combater os socialistas que atacavam as ideias revolucionárias vindas da longínqua Rússia. O bolchevismo, então, teve de ser construído de maneira tortuosa. E antes mesmo de se consolidar como um partido revolucionário, começou a degenerar. É que a influência do stalinismo corroía não apenas o PCUS (Partido Comunista da União Soviética), mas toda a IC.
James Cannon não estava consciente disso e se sentia alienado dos debates que surgiam no comunismo mundial (como ele próprio admite). Mas quando toma conhecimento das teses da Oposição de Esquerda liderada por Trótski, no VI Congresso da IC, e adere a elas, começa a ser perseguido pelo nascente stalinismo em seu país. Por fim foi expulso do PC junto a outros dois dirigentes.
Em forma de deboche, os stalinistas os chamavam de "os três
generais sem exército". Havia um pouco de razão nisso, pois estavam
praticamente sozinhos. Tiveram que começar novamente a construção de um partido
revolucionário. Eles passaram quatro anos isolados, quase sem contato com os
trabalhadores, reduzidos a um pequeno grupo que não tinha telefone, nem mesmo
um mísero mimeógrafo em sua sede. Tiveram dificuldades até em conseguir uma
máquina de escrever! A depressão causada pela crise econômica mundial de 1929
golpeava em cheio, e o stalinismo se fortalecia.
No livro "Os dias de cão" Cannon nos conta que “Naqueles dias de cão para a organização, havíamos perdido todos os nossos contatos. Não tínhamos amigos, nem simpatizantes, nem uma periferia ao redor do movimento. Não tínhamos nenhuma oportunidade de participar no movimento de massas. Todas as vezes que tentávamos entrar em uma organização operária éramos expulsos, acusados de sermos trotskistas contrarrevolucionários. Tentamos enviar delegações nos encontros de desempregados, mas nossas credenciais eram rechaçadas com o argumento de que a gente era inimigo da classe operária. Estávamos isolados...” e que “Nossa tarefa nessa época difícil era resistir, esclarecer as grandes questões, educar nossos quadros nos preparando para o futuro, quando as condições objetivas abriram as possibilidades para o crescimento do movimento”.
Mas as coisas foram melhorando. Primeiro conformaram um
grupo de intelectuais atraídos pelas ideias do trotskismo. Depois a luta de
classes os ajudou.
Em 1933, passado o crack de 1929, começou um ascenso do movimento operário norteamericano com importantes lutas e isso se refletiu em um salto na organização sindical.
Um desses conflitos se deu na grande automobilística Auto
Lite de Toledo. Ali existia um grupo de trabalhadores que se chamavam Partido
dos Trabalhadores Norteamericanos que era dirigido por um tal de Muste, que
havia sido pastor em uma igreja. Faziam trabalho entre os desempregados e com
esse grupo participaram ativamente da greve, radicalizando os piquetes e
influenciando em sua direção. Esse foi um importante triunfo dos trabalhadores
metalúrgicos.
Forjaram uma fração revolucionária nos anos em que o
sindicalismo se desenvolvia na indústria e nos serviços, em meados de 1930.
Cannon relata muito bem como em Minneapolis os trotskistas
liderados por Farrell Dobbs e os irmãos Dunne foram a ala esquerda do poderoso
sindicato de caminhoneiros, os Teamsters, que lutavam contra as patronais e os
burocratas como Hoffa. Este último ficou famoso por armar um piquete em um
carregamento de morangos (ele e seus associados ficaram conhecidos no final da
década de 1930 como "Strawberry Boys"). Depois disso ele consolidou
seu poder burocrático ao longo dos estados do leste, centro e sul do país. Hoffa
reconheceu o importante trabalho de Dobbs nos Teamsters, embora ele não perdia
a oportunidade de deixar claro que não tinha nada a ver com as convicções
marxistas de Dobbs.
Houve uma grande greve de caminhoneiros em Mineapolis, em
julho de 1934, que durou cinco semanas. Foi uma greve triunfante, duríssima,
violenta, conduzida pelos trotskistas. Cannon fala dela neste livro (Farrell
Dobbs a desenvolve em quatro volumes). Como a definiria anos depois:
“Acho que posso dizer sem exageros, sem temer alguma
contradição, que a greve de julho e agosto dos motoristas de caminhões e
ajudantes de Minneapolis, entrou nos anais da história do movimento operário
norteamericano, como uma de suas maiores lutas, mais heroicas e melhor
organizadas”.
Dois grupos de esquerda não stalinistas dirigiram as grandes
greves triunfantes em Toledo e Minneapolis. A política dos trotskistas de
buscar unidade com o grupo de Muste era lógica. Eles começaram a trabalhar, e
não sem alguns receios de ambos os lados, concretizaram a unidade. Foi uma
experiência enriquecedora, mas eles rapidamente tiveram que encarar outro
desafio para dar um novo salto na construção do partido revolucionário.
Naqueles anos na Europa, com o triunfo do fascismo na
Itália, do nazismo na Alemanha e com os partidos comunistas em retrocesso,
surgem dentro dos velhos partidos socialistas na França, Espanha e em outros
países, alas de esquerda potencialmente revolucionárias, constituídas por
operários e jovens que expressavam uma nova geração. A Revolução Espanhola, a
radicalização da luta de classes na França, bem como a consolidação do
stalinismo na URSS, foram fatores decisivos nessa nova formação. Leon Trótski
recomendou a seus seguidores, que eram pequenos grupos militantes e não
verdadeiros partidos revolucionários, que entrassem nos partidos de dezenas de
milhares de socialistas para lutar a partir de dentro por uma fração
revolucionária antes que essa nova geração se desmoralizasse ou fosse
conquistada pelo stalinismo. Essa tática ficou conhecida como
"entrismo" ou "giro francês", por ser na França o primeiro
país que se implementou essa política.
Infelizmente na Espanha, os revolucionários se recusaram a
levar adiante essa tática e permitiram que as Juventudes Socialistas, que
marcharam com bandeiras de Lênin e Trótski exigindo uma nova Internacional,
fossem cooptadas pelo stalinismo e se juntassem ao mesmo pouco antes da Guerra
Civil.
Entraram no Partido Socialista norteameriano (isso provocou a ruptura com os adeptos de Muste) e fizeram uma curta, porém rica experiência editando um periódico, o Socialist Appeal. Pouco depois saíram desse partido e fundaram o SWP.