quinta-feira, 10 de março de 2022

RECESSÃO ECONÔMICA E ALTA INFLACIONÁRIA MUNDIAL: SANÇÕES CONTRA A RÚSSIA ANUNCIAM UM CENÁRIO DE NOVO COLAPSO CAPITALISTA 

Todas as previsões que governos neoliberais e bancos centrais fizeram sobre a inflação, desde que começou a subir meses atrás, estão todas erradas. Primeiro, a inflação “seria temporária”. Quando ficou claro que não era assim, começaram a falar de uma "temporalidade" que não era mais tão curta. Por fim, a evidência de preços cada vez mais altos acabou por forçá-los a usar termos como “caráter transitório persistente” e outros eufemismos, basicamente reconhecendo que a inflação global veio para ficar e provocar mais recessão na economia capitalista.

Ao longo da história do capitalismo, a inflação foi um mecanismo de pilhagem das classes populares,  aumentos salariais, pensões ou melhorias econômicas específicas podem ser soterradas com um aumento acentuado dos preços. E é isso que está acontecendo agora, em um momento em que mesmo os pequenos aumentos que podem ocorrer de tempos em tempos nas aposentadorias, salários mínimos ou em alguns acordos de categorias(cujos benefícios são anunciados com grande alarde)representam, na verdade, uma perda de poder aquisitivo , devido à inflação que nos últimos meses já ultrapassou os 6%. E caso a classe trabalhadora pense em lutar por melhorias salariais, governos burgueses e seus bancos centrais ou ministros da economia já se encarregaram de lembrar que tal “proposta” é inaceitável.

As previsões de melhoria econômica que os organismos financeiros internacionais fizeram para este ano de 2022 já eram duvidosas, e agora podemos descartá-las completamente. As sanções aplicadas contra a Rússia podem ser uma verdadeira bomba para a economia europeia e mundial, cuja população verá os preços dispararem ainda mais e se aprofundarem em uma crise que, na realidade, já estava se formando desde antes da pandemia e cujas causas são estruturais geradas pela crise capitalista de superprodução. A própria  presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que as sanções aprovadas contra a Rússia também terão efeitos negativos para os europeus.

A Europa é profundamente dependente não só do gás russo (que representa mais de 40% do gás consumido na UE, chegando a mais de 60% em países como a Alemanha), mas também de muitos outros produtos e matérias-primas como petróleo, carvão ou cereais, insubstituíveis a curto e médio prazo.  O cerco econômico contra a economia russa vai fazer disparar os preços de muitos produtos e afetará também muitas empresas de setores como agroalimentar, companhias aéreas ou a indústria de transformação que têm investimentos no país eslavo.

O principal objetivo das sanções é minar a economia russa. As tensões atuais levarão a novos aumentos nos preços das matérias primas e comodities, e isto paradoxalmente pode fornecer “oxigênio” e reduzir os danos infligidos ao país eslavo, já que seu principal fluxo de rendimento é a exportação das próprias comodities, sejam minerais ou agrícolas.

Para a União Europeia, as medidas impostas contra a Rússia podem ter um efeito bumerangue, fazendo com que a crise em que as economias imperialistas estão imersas, entre em uma fase ainda mais profunda. O certo mesmo é que afetarão a economia europeia muito mais profundamente do que a dos EUA, os principais instigadores do atual conflito.

As previsões feitas por algumas “casas de apostas” nos dias de hoje, sugerem que a inflação média na zona euro poderá disparar até 6,5% em 2022 (a média em 2021 foi de 3,5%), e que sem dúvida será superior a qualquer uma das previsões que já foi feito. Os preços da eletricidade e da gasolina já começaram a disparar e os aumentos também chegarão à cesta de compras do consumidor final.  Mais e mais vozes estão alertando que a chegada da temida estagflação – um cenário em que preços altos são combinados com crescimento baixo ou nulo do PIB , é mais provável do que nunca.

A história parece se repetir, e a crise capitalista mais uma vez nos leva à guerra. O imperialismo ocidental, com os Estados Unidos no centro, não pode mais prolongar sua hegemonia se não for pela desestabilização, levando os povos a uma situações de guerra. A exacerbação do nacionalismo, o militarismo, o envenenamento midiático como o que o consórcio corporativo global sustenta hoje contra a Rússia, conjuntamente com a deterioração das condições de vida dos setores populares, farão parte de futuro da luta de classes bem próximo de “guerras e revoluções”.