quinta-feira, 31 de março de 2022

FÓRUM DA GOVERNANÇA BURGUESA GLOBAL EM DUBAI: TRAÇANDO OS PLANOS DO “GRANDE RESET” PARA TENTAR RESGATAR O CAPITALISMO DE SUA AGÔNICA CRISE

Ocorreu nos dias 29 e 30 de março em Dubai a reunião anual da “World Government Summit Organization” que oficialmente está dedicada a “moldar o futuro dos governos”, ou seja, planejar ações da governança global do capital financeiro para pavimentar a nova ordem mundial burguesa em meio a guerra da Ucrânia e a Pandemia de Covid-19. Segundo o site “A Cúpula Mundial de Governos (WGS2022) organizou 15 fóruns globais, incluindo seis novos fóruns, encarregados de enfrentar as ameaças emergentes de mercados financeiros voláteis e novos mundos virtuais à medida que a sociedade se recupera da interrupção sem precedentes da pandemia”. O WGS dá continuidade a uma operação muito complexa desprezada pela esquerda mundial: o chamado “Grande Reset”. 

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Como já aconteceu algumas vezes na história humana, hoje o que alguns chamam de “tempestade perfeita” se formou no sistema mundial organizado, ou seja, às várias crises: econômica, social, geopolítica e ambiental, já existentes e “incluídas no pacote” do atual sistema de capitalismo globalizado (governança mundial), agora se soma a crise sanitária originada pela pandemia de Covid, que como um gatilho, precipita uma crise geral e caótica de todo o sistema do capital.

A lista de fóruns inclui várias novidades para o Summit, incluindo o Global Metaverse Forum, o Global Crypto Forum e o Cybersecurity in Aviation Forum. Os outros nove fóruns previstos para o evento de dois dias incluem o Fórum de Mudança Climática, o Fórum de Saúde Global, o Fórum de Energia Global, os ODS em Ação, o Fórum Mulheres no Governo, o Fórum de Serviços Governamentais e o Fórum de Equilíbrio de Gênero.

Para desenhar estratégias e políticas diante de crises como a atual, há justamente a gama de corporações transnacionais privadas e clubes de planejamento político da elite financeira que proliferam desde os anos 70, por meio dos quais a burguesia imperialista promove suas agendas ou novos “modelos “de capitalismo. 

Como foi o "Consenso de Washington" (Friedman), a "Nova Ordem Mundial" (Bresinsky), "A Terceira Via" (Blair), "As novas economias institucionais" (Stiglitz); ou agora "The Great Reboot" (Schwab), apenas para citar alguns.

Durante o primeiro Global Metaverse Forum, tecnólogos e futuristas de renome mundial no WGS2022 exploraram o potencial da nova era da Internet – Web 3.0. O fórum destacou os recursos do Metaverse ao oferecer um mundo digital paralelo com potencial ilimitado. O Global Crypto Forum se concentrou em impulsionar os esforços globais capitalistas para adotar moedas digitais juntamente com um ecossistema para seu uso, tanto regional quanto globalmente. 

O fórum, realizado pela primeira vez durante o WGS, destacou a necessidade de desenvolver um sistema global que regule os usos da moeda digital, ao mesmo tempo em que estabelece prioridades claras para governos e setor privado em relação ao uso efetivo de tecnologias blockchain, promovendo os usos da criptomoeda.

O Fórum Mulheres no Governo ofereceu um espaço identiário como gosta a esquerda domesticada para o diálogo global sobre liderança feminina no setor público e destaca as mulheres líderes burguesas enquanto discutem como promover a inclusão e capacitação das mulheres nos governos capitalistas que todo espectro política, da extrema-direita a esquerda social-democrata.

Em parceria com a General Civil Aviation Authority (GCAA) e a International Civil Aviation Organization (ICAO), o Cybersecurity in Aviation Forum discutiu o futuro da aviação, novos conceitos de viagens e como os governos e o setor privado estão integrando medidas de segurança cibernética nas políticas globais para aumentar a sustentabilidade da indústria da aviação.

O Fórum de Mudanças Climáticas visou explorar o roteiro e as oportunidades econômicas para acelerar e dimensionar a transição para um futuro net-zero. A Cúpula Mundial de Governos convocou líderes e especialistas globais para iniciar uma mudança sistêmica urgente e sem precedentes para atingir zero emissões líquidas até 2050, o chamdo "capitalismo verde".

O WGS acolheu o "TIME 100 Gala" em parceria com a revista TIME, como primeiro evento internacional no Museu do Futuro. A Gala reuniu líderes de pensamento, especialistas e influenciadores globais como uma nova expansão da lista Time 100 das pessoas mais influentes do mundo.

O Fórum Global de Saúde, organizado em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), discutiu perspectivas de 2022, transformações nas sociedades, avanços tecnológicos pós pandemia de COVID-19 com as vacinas experimentais da Big Pharma.

O Global Energy Forum, organizado em parceria com o Atlantic Council, concentra-se nas energias renováveis ​​e na importância que ela tem para mitigar as mudanças climáticas no caminho para um futuro líquido zero.

No WGS 2022, mais de 4.000 altos funcionários do governo, especialistas e líderes do setor privado participarão da exploração do futuro dos governos em mais de 110 sessões e painéis interativos ao longo dos três dias.

Segundo Klaus, coordenador da máfia de Davos: “A pandemia mergulhou o mundo como um todo, e cada um de nós, nos tempos mais desafiadores que já tivemos que enfrentar e teremos que enfrentar suas consequências por anos e muitos as coisas vão mudar para sempre ". Os grandes problemas do mundo, escreve Schwab seu livro: ”especialmente as divisões sociais, a injustiça, a falta de cooperação ou o fracasso da governança e liderança global, estão mais expostos do que nunca, e as pessoas acreditam que chegou a hora de se reinventarem. Um novo mundo surgirá, cujos contornos nos cabe imaginar e traçar”.

Para obter um “melhor resultado” para os objetivos do Grande Reset, diz K. Schwab: “o mundo deve atuar conjunta e rapidamente na renovação de todos os aspectos de nossas sociedades e economias, da educação aos contratos sociais e condições de trabalho. Todos os países devem participar, dos Estados Unidos à China, e todos os setores devem ser transformados, do petróleo e gás à tecnologia. Em outras palavras, precisamos de uma Grande Reinicialização do capitalismo!”. Somente os dóceis reformistas domesticados pelo capital financeiro se recusam a ver, debater e principalmente combater a Nova Ordem Mundial.

Podemos resumir brevemente a agenda do Grande Reset no sentido de que ela contempla uma série de reformas necessárias para tentar resgatar a taxa de lucros, em declínio acentuado na última década. Os cinco pontos fundamentais do Plano de Davos são: 1) o redirecionamento dos estímulos fiscais, 2) educação voltada para a tecnologia, 3) promoção do investimento em tecnologias virtuais alternativas, 4) mudanças nas métricas econômicas e financeiras, 5) maior compromisso ambiental com redução dos combustíveis fósseis.

Convergindo todas as reformas no chamado “capitalismo de stakeholders”, uma espécie de paraíso dos algoritmos que controlam desde o fluxo de capital no mundo, até os novos meios de informação e relacionamento social. Mas, se expandirmos um pouco mais o fulcro do nefasto projeto, observamos que a proposta também inclui: intervenções governamentais de resgate, consenso entre os agentes econômicos, orientação para o mercado, aumentos de impostos, redução estatal e reformas trabalhistas, além de uma ênfase atualizada no papel das tecnologias para uma " economia "verde".

O mais “engraçado” é que essa proposta surge em uma reunião da elite mundial do capital financeiro, que em geral é partidária do neoliberalismo radical. O FEM se destaca como o novo órgão de planejamento e centralização transnacional das grandes corporações e da burguesia imperialista. Por isso, vale a pena refletir, a crise da globalização ultra neoliberal, sem dúvida catalisada pela pandemia, é de tal magnitude que ressuscitam as teses do capitalismo regulado? Obviamente, a proposta de Schwab contém uma boa dose de neo-keynesianismo “ornamentado” (chuva de dinheiro) e “temperado” com uma boa dose de fascismo sanitário (supressão das liberdades democráticas). 

A essência do projeto da nova “Globalização Imperialista”, foi materializada com a própria pandemia, obviamente somente os tolos reformistas é que acreditam que foi tudo uma “coincidência”. Se tudo isso for assim, parece necessário fazer alguns esclarecimentos a respeito do contexto mundial, no qual se verificaria a real possibilidade de que tais “reformas sanitárias” pudessem ser realizadas. 

Em primeiro lugar, não devemos esquecer que o sistema mundial do capitalismo tem duas facetas muito dinâmicas, que influenciam e determinam de forma decisiva qualquer processo ou projeto social e econômico relevante. São dois os elementos principais: globalização e imperialismo. 

Ambos são tendências inerentes ao modo de produção capitalista e estão historicamente relacionadas. Por outro lado, apesar das “mudanças cosméticas”, o Estado imperialista existe, preserva sua identidade e estrutura, e continua a desempenhar seu papel histórico na lógica de acumulação do capital mundial. Ao contrário do que ocorre com a governança global do capital financeiro, um organismo entranhado nas “sombras” das instituições multilaterais e dos “clubes” fechados da elite financeira internacional. 

Por sua vez, a globalização consolidou a dominação da governança e aprofundou a submissão dos capitalismos periféricos e até mesmo centrais. Desta forma, as teorias marxistas da globalização econômica capitalista não devem ignorar o conceito de hegemonia da governança global do capital financeiro.

Há cerca de cem anos, Lenin contribuiu com a sua conhecida caracterização do imperialismo, definindo-o como "a era do capital financeiro e dos monopólios, que transportam para todo o lado a tendência para o domínio e não para a liberdade"..."O imperialismo é a fase superior do capitalismo”, afirmou o chefe Bolchevique da Revolução Russa. 

É verdade, que a esquerda reformista não concorda com Lenin, se converteu hoje no melhor “braço de apoio” do rentismo mundial, ao reproduzir com fidelidade canina a mesma “pauta” do Fórum de Davos. Essa esquerda está completamente morta para a luta revolucionária, atravessou o rubicão de classe, e como a Social Democracia na Primeira Guerra Mundial, se entrincheirou no campo do imperialismo contra a classe operária internacional. 

Assim como Lenin, na época contando apenas com sua “pequena” organização proclamou a falência política e ideológica da Segunda Internacional, os Marxistas Revolucionários estão diante da tarefa estoica da reconstrução do Partido Bolchevique em escala planetária!