QUEM É O VERDADEIRO “SENHOR DA GUERRA”?: TRILHÕES DE DÓLARES
EM ARMAMENTO PARA MANTER A HEGEMONIA GLOBAL DO IMPERIALISMO IANQUE
A guerra na Ucrânia fez o governo de Joe Biden apresentar ao Congresso o maior orçamento militar em tempos de paz de sua história: US$ 813 bilhões (R$ 3,9 trilhões) para 2023, 4,5% a mais do que previsto no ano fiscal de 2022. O ano fiscal americano compreende o período entre 1º de outubro do ano corrente e 30 de setembro do seguinte. Do valor total, US$ 773 bilhões (R$ 3,7 bilhões) são exclusivamente do Departamento de Defesa. São valores nominais. Em termos de percentual do Produto Interno Bruto, deverá haver uma recuperação para o nível de 2020 (3,7%), após uma queda em 2021 (3,29%). "Nosso orçamento reflete nossa Estratégia Nacional de Defesa e o foco desta estratégia no desafio da China. Ele preserva nossa preparação e dissuasão contra as ameaças que encaramos hoje: a aguda ameaça de uma Rússia agressiva e a emergência constante de ameaças colocadas pela Coreia do Norte, Irã e organizações extremistas", afirmou o secretário Lloyd Austin.
Há uma grande ênfase em desenvolvimento de novas armas: US$ 130 bilhões (R$ 623 bilhões) são destinados para mísseis hipersônicos, que a Rússia já utiliza na guerra contra o vizinho, e outros sistemas. É o maior gasto do tipo da história. Refletindo a agitação no mercado internacional de defesa, com o rearmamento já anunciado de países como a Alemanha, os americanos reduziram de 85 para 61 os pedidos de novos caças de quinta geração F-35, produzidos pela Lockheed.
O motivo especulado é atender mais rapidamente os novos
clientes internacionais do jato, que por anos patinou em vendas. Além de
Berlim, que anunciou que irá comprar 35 deles, nesta segunda o Canadá fechou um
dos maiores negócios do gênero no mundo e vai adquirir 88 F-35.
Estimada em 19 bilhões de dólares canadenses (R$ 72,5
bilhões), a negociação é uma grande derrota para os suecos da Saab, que
tentavam emplacar o Gripen, caça que foi comprado pela Força Aérea Brasileira e
será produzido no interior de São Paulo. Em janeiro, o Gripen já havia perdido
para o F-35 na grande concorrência para fornecer 64 aviões para a Finlândia.
Os EUA estão emergindo como os maiores ganhadores com o
apetite renovado por defesa, ainda mais que negócios com a Rússia agora podem
trazer o peso de sanções econômicas para eventuais clientes. O Egito, terceiro
maior comprador de armas russas de 2017 a 2021 segundo o Sipri (Instituto
Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo), já trocou um lote de caças
pesados Sukhoi-35S por um do americano F-15. No período, os EUA dominaram 39%
do mercado mundial, e os russos vinham em segundo lugar, com 19%. Para Moscou,
a esperança que seus dois maiores compradores, China e Índia, sigam ignorando a
pressão de Washington.
Também em decorrência da guerra nas franjas orientais da
Otan (aliança militar liderada pelos EUA), Biden pediu um aumento de quase 10%
no gasto da chamada Iniciativa de Dissuasão Europeia, que envolve o rearmamento
de aliados no continente, chegando a US$ 4,2 bilhões (R$ 20,1 bilhões). Só a
Ucrânia deve ganhar US$ 300 milhões (R$ 1,4 bilhão).
A chamada tríade nuclear, que consiste dos três vetores de
lançamento de armas atômicas (submarinos, lançadores em solo e bombardeiros)
ganhará US$ 34 bilhões (R$ 163 bilhões). As duas maiores novidades são os
submarinos da classe Columbia e o bombardeiro furtivo ao radar B-21, que deve
ser retirado do hangar para testes em solo neste ano.
Os EUA são líderes indiscutíveis em gasto militar mundial.
Segundo a publicação anual Balanço Militar, do IISS (Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos, de Londres), em 2021 os EUA gastaram US$ 754 bilhões (R$
3,6 trilhões). Foi quase o mesmo dispêndio dos 14 países a seguir no ranking de
gastos e mais do que o dobro do que o resto do mundo empregou em defesa.
A Casa Branca sugere buscar a paz nos países que invade e
não economiza esforços para tal: segundo o projeto "Custos da
Guerra", desenvolvido na Universidade Brown, desde 2001, os Estados Unidos
gastaram US$ 8 trilhões (cerca de R$ 40,4 trilhões) em guerras e ações
militares pós-11 de setembro no Oriente Médio e na Ásia. A cifra é superior ao
gasto total do governo norte-americano no ano fiscal de 2021, de US$ 6,8
trilhões, segundo o Departamento do Tesouro. Apenas na Síria, em mais de uma
década de intervenção estadunidense, e no Iraque, os gastos bélicos superam US$
2 trilhões. Após 20 anos no Afeganistão, os gastos também foram calculados em
mais US$ 2 trilhões. Nos territórios de conflito armado, as mortes foram
calculadas em 929 mil vidas perdidas na chamada guerra ao terrorismo emplacada
pelos Estados Unidos.
O mesmo estudo aponta que a atuação norte-americana entre
2018 e 2020 atingiu a 85 países, incluindo treinamento e assistência às forças
de segurança em outros países, como no Brasil, na Argentina e no México nesse
período. Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em seu último
relatório, em 2018, existem 625 bases militares oficiais em territórios
estrangeiros. Contabilizando as clandestinas, o pesquisador em antropologia
política David Vine revelou em estudo que em 2021 existiriam cerca de 750 bases
militares estadunidenses. O maior número se concentra no Japão, com 120 bases
ativas; na Alemanha, com 119; e na Coreia do Sul, com 73. Assim, os Estados
Unidos são o país com maior presença militar e capacidade de ativação em
qualquer região do mundo.
O site Our World in Data (nosso mundo em dados) mostra que os gastos militares no mundo somaram US$ 1,91 trilhão em 2020. Os membros da Otan (EUA inclusos) foram responsáveis por US$ 1,09 trilhão, portanto, mais da metade do total mundial. Os Estados Unidos, sozinhos, gastaram US$ 798,28 bilhões.