quarta-feira, 10 de março de 2021

LULA EM COLETIVA: A BURGUESIA NÃO DEVE TEMER MEU RETORNO A PRESIDÊNCIA, MUITO MENOS A CASA BRANCA...OS MILITARES, BANQUEIROS E EMPRESÁRIOS FORAM OS QUE MAIS GANHARAM NO MEU GOVERNO 

Em coletiva concedida nesta quarta-feira (10/03), o ex-presidente Lula fez um alerta para a burguesia nacional sobre o suposto “risco Lula”: Zero risco em seus lucros! Lula concedeu a “triunfal” entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dois dias após a decisão de Fachin e um dia depois de o Supremo avançar no julgamento sobre a suspeição do juiz Sergio Moro. O líder petista recebeu um claro “sinal verde” do imperialismo ianque (que de fato controla o STF), que para “cancelar” o presidente neofascista, a nova gerência da Casa Branca admite até colocar Lula de volta ao jogo político do Brasil. O ex-presidente petista não se fez de rogado, falou o que o mercado quiz ouvir: Defendeu a Frente Ampla, criticando a limitação de “esquerda” da antiga Frente Popular (PT, PCdoB, PSB e PCO), dando como exemplo sua candidatura em 2002, quando costurou a aliança com o empresário José Alencar, selando a coligação com o Partido Liberal (PL) do corrupto deputado Valdemar Rossi. As críticas de Lula à mídia corporativa, sobre a cobertura “denuncista” no processo do “Petrolão”, foram eivadas de um pedido de armistício, em especial para a famiglia Marinho, que já acena uma reaproximação com o PT. Em resumo para não cansar nossos leitores, Lula repetiu o que sempre vem tentando mostrar a burguesia nacional: “No meu governo todos ganharam, banqueiros, empresários, agronegócio, mídia corporativa, Igreja Universal e até os povo pobre ganhou a (irrisória, nota da redação) Bolsa Família”.... 

Em seu discurso Lula disse aos empresários “não tenham medo de mim”. O ex-presidente fez um alerta sobre o falso “risco Lula” e defendeu sua tese de um novo contrato social, afirmando que vai procurá-los assim que tomar a vacina e também a “classe política” para conversar sobre uma saída para o Brasil. 

Lula propôs abertamente que os capitalistas deixem de apoiar o governo neoliberal de Bolsonaro, não por acaso, o petista fala de “unir todos os brasileiros para vivermos em harmonia”. Foi um discurso para sua base política e eleitoral, porém voltado a um endereço social certo: os grandes empresários que controlam o PIB nativo. 

O chamado à “reconstrução nacional” passaria necessariamente por um governo de centro-esquerda burguesa, de Frente Ampla, como as gestões passadas da Frente Popular. Desta forma, Lula encobre que os interesses sociais imediatos e históricos entre o proletariado e capitalistas são irreconciliáveis como nos explicou Marx, uma tese revolucionária que a esquerda reformista e até grupos que se dizem trotskistas satélites do PT tentam esconder com todo o malabarismo político, lançado em nome da necessidade de “derrotar a direita” nas urnas.

Ao dizer que procuraria todo os tipos de políticos, outro “tabu” foi quebrado, o de que o ex-presidente não estaria mais disposto a celebrar as antigas alianças com as legendas da burguesia, como as que construiu em mais de uma década de governos da Frente Popular de colaboração de classes. 

A ilusão criada pelo PCO e outros satélites internos e externos do PT, partia de um suposto tom “radical” anteriormente propalado por Lula. Uma verdadeira falácia para qualquer pessoa atenta ao conteúdo da proposta de Lula em recriar um novo pacto social entre a falsa burguesia progressista e os trabalhadores. O dirigente petista já se encontra em estágio avançado para costurar novamente os farrapos da antiga “base aliada”, em sua esmagadora maioria convertida ao golpismo. 

Nesse sentido, buscou uma aproximação com a Rede Globo. Lula disse "espero que o Jornal Nacional de ontem seja o novo padrão de jornalismo da Globo", tanto que definiu como "épica" a edição desta terça-feira (9) do Jornal Nacional, que fez a cobertura do julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro.

Lula e o PT não mudaram e tampouco mudarão sua estratégia política de governar com a burguesia, mesmo tendo sido golpeado por ela, por uma razão bem simples a luz do marxismo: O PT tem sua natureza programática fincada na classe dominante, ou seja, é um dos partidos da burguesia nacional, sua ala esquerda mais precisamente. Por isso a compulsão política por voltar a reeditar o pacto social, na gerência do Estado capitalista. 

Aqui não se trata de uma questão de “lealdade ou traição”, o “DNA” político do PT nada tem a ver com a classe operária, da qual é a grande referência e que também controla a quase totalidade de suas entidades. Porém entre ser a grande referência político/eleitoral e pertencer organicamente a classe operária, tem uma diferença brutal que diz respeito a escolhas de estratégia e não simplesmente a conjuntura momentânea. O PT é um dos partidos do capital, sua existência política está a serviço de administrar seu Estado, tentando impulsionar sua agenda de neodesenvolvimento econômico, quando a situação do mercado mundial permita este tipo de gestão “progressista”. 

O discurso de Lula hoje sintetiza o sonho de voltar a governar para e com a burguesia não se dissipou para o PT, apesar de todas as trágicas lições que a história deixou, e que amargamente é o proletariado quem “paga a conta” da tragédia política, social e econômica que atravessa o Brasil.