quinta-feira, 25 de março de 2021

PCB COMPLETA 99 ANOS: POR TRÁS DO SEU “NOVO” CHAMADO A “UNIDADE DAS FORÇAS POPULARES” ESTÁ A POLÍTICA DE CONCILIAÇÃO DE CLASSES QUE MARCA SUA TRAJETÓRIA DE SUBMISSÃO AO STALINISMO ATÉ A ATUAL VIRADA SOCIAL-DEMOCRATA COMO SUBLEGENDA DO PSOL 

O PCB completa 99 anos nesse 25 de março lançando um "novo" chamado a "unidade das forças populares", obviamente de olha na constituição de uma ampla frente eleitoral para 2022. O PCB hoje é um partido totalmente diferente do ponto de vista político e programático da organização comunista que teve sua gênese revolucionária em 1922 sob a influência direta da vitória da Revolução de Outubro 1917, quando os nove delegados fundaram o partido em ruptura com o anarquismo. O antigo “Partidão” não passa hoje no Brasil de uma sublegenda do PSOL e seu programa socialdemocrata. 

Tando que caiu a máscara da política de colaboração de classes do PCB nestas eleições municipais de 2020. Se até 2018 o outrora “Partidão” era “apenas” um apêndice do PSOL e de seu programa socialdemocrata, quando embarcou acriticamente na candidatura presidencial de Boulos, deu um salto de qualidade em sua completa (re)integração a Frente Popular. Em várias cidades do país o PCB não apenas apoiou os candidatos a prefeito do PSOL em São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Porto Alegre, Fortaleza... como “avançou” em integrar coligações formadas além do PSOL por um arco burguês composto por PT, PCdoB, PSB, Rede e PDT!

O mais interessante é que nas atuais comemorações o atual PCB reivindica a figura de Luis Carlos Prestes. Desta forma encobre cinicamente e de forma oportunista o fato de até mesmo ele ter rompido publicamente com o PCB em março de 1980 através da famosa “Carta aos Comunistas”. Nesta época, Prestes denunciou a política de claudicação do partido ao governo militar comandado pelo general Figueiredo e a orientação de não resistência à ditadura na década de 70, rompendo junto com os mais importantes quadros do partido, como Gregório Bezerra e reduzindo o PCB a um “partidinho”. Também não esqueçamos que Ivan Pinheiro, até recentemente Secretário-Geral do PCB “reconstruído” e agora substituído por Edmilson Costa, foi o braço direito da troika Giocondo Dias, Salomão Malina e Hércules Correa quando estes combatiam Prestes no final dos anos 70, no momento em que a direção nacional voltou ao Brasil devido à aprovação da Lei da Anistia. 

Precisamente em março de 1980, Prestes em minoria na direção se afastou do PCB, arrastando consigo a maioria do partido, processo que tempos depois veio a se desmoralizar pela diletante negativa de Prestes em construir uma nova organização política. Em maio do mesmo ano, no auge das divergências, a direção nacional elegeu Giocondo Dias secretário-geral, depois de declarar vago o cargo. 

Com a legalização do PCB em 1985, Giocondo exerceu sua função até o VIII Congresso, em 1987, quando foi substituído, por motivos de saúde, por Salomão Malina. Durante todo esse período, ao seu lado estavam Hércules Correa, "teórico" do peleguismo sindical no Brasil e Ivan Pinheiro, então presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, representando as posições mais à direita no movimento operário brasileiro em uma época de clara radicalização das lutas, com a vitória das oposições sindicais cutistas. Estes senhores combateram a fundação da CUT e do PT, atacando-os violentamente como instrumentos da ditadura militar, “divisionistas da esquerda”. Na verdade, quem fazia o jogo da oposição burguesa à ditadura militar contra o novo sindicalismo e o PT, que na época agrupava o grosso da vanguarda classista e se colocava como alternativa política ao PMDB, era o stalinismo agrupado no PCdoB como o PCB e juntos na arquipelega CGT. Não por acaso, apoiaram o golpe do Colégio Eleitoral com a indicação de Tancredo Neves e, logo depois, com a ascensão da "Nova República", viraram "fiscais do Sarney" e de seu Plano Cruzado. Durante todo esse período, Ivan Pinheiro foi entusiasta defensor dessa política que resultou no lançamento da candidatura de Roberto Freire em 1989 para combater o PT nas eleições presidenciais. Foi essa trajetória tão direitista que levou em 1992 a maioria do PCB a se converter no núcleo fundador do PPS sob a direção de Salomão Malina e Freire. Só aí Ivan Pinheiro rompeu com esse grupo revisionista que tinha ido longe demais em seus ataques aos princípios do marxismo em função da onda contrarrevolucionária mundial desencadeada com o fim da URSS que converteu vários partidos comunistas do planeta em partidos sociais-democratas.

A origem desse processo é que a orientação levada a cabo pela atual direção do PCB após a ruptura com Salomão Malina, Sérgio Arouca e Roberto Freire em 1992 foi a do reformismo burguês de "esquerda". Logo em 1994, o PCB apoiou a candidatura petista atacando o "sectarismo e o esquerdismo" daqueles que denunciavam o caráter burguês da postulação de Lula, orientação que permaneceu até 2002, mesmo com o PT tendo como candidato a vice-presidente o megaempresário José Alencar, sendo porta-voz de um programa abertamente pró-imperialista expresso na "Carta aos Brasileiros" (leia-se aos banqueiros). Após ter rompido com o governo Lula em 2005, devido à "crise do mensalão", quando o PCB avaliava que a gestão da frente popular iria naufragar, o partido passou a patrocinar o eleitoralismo pequeno-burguês em torno da "frente de esquerda" com o PSTU e PSOL. Tanto que apoiou Heloísa Helena em 2006, paladina de um programa de reformas no regime político democratizante bastardo de corte nacional-desenvolvimentista, mesclado com traços reacionários de defesa ferrenha da Constituição. Tanto Lula como Dilma tiveram o apoio do PCB nos segundos turnos das eleições presidenciais de 2006 e 2010 ao lado das demais legendas que representam o serviçal espectro stalinista em nosso país (PCdoB, PCR, PCML-Inverta), recorrendo ao surrado e cômodo pretexto de "derrotar a direita demo-tucana". Em 2018 o PCB embarcou em uma aliança com o PSOL em apoio à candidatura social democrata Boulos, com atual Secretário-Geral do PCB, Edmilson Costa, fazendo do partido uma sub-legenda do PSOL.

Recentemente, em novembro de 2019, diante do fato de Marcelo Freixo (PSOL) ter fechado uma frente eleitoral com o PT para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro, a direção do PCB logo saiu em busca de outros parceiros eleitorais burgueses e costura uma aliança com ninguém menos com o PDT do oligarca reacionário Ciro Gomes. De olho nas eleições municipais de 2020, PSB, PCB, PCdoB e PDT realizaram uma atividade conjunta ensaiando a unidade em torno da deputada estadual e delegada de polícia Martha Rocha (PDT-RJ) para a disputa da prefeitura. Além de Marta Rocha e o PCB, representado por dirigentes do partido como Eduardo Serra, estiveram presentes no Seminário “Um Programa para o Rio”, Alessandro Molon (PSB) e Brizola Neto (PCdoB) com o objetivo de elaborar a plataforma eleitoral de colaboração de classes. O PCB que até então apregoava de boca a luta por uma “Frente de resistência” tentou costurar na verdade uma ampla frente burguesa com golpistas, o PDT do neocoronel Ciro Gomes e o desmoralizado PCdoB de Jandira Fegalli, ou seja, com a ala direita da Frente Popular que não desejava até então a aderir à candidatura de Freixo, que anunciou após o encontro com Lula que tinha o apoio do PT para disputar a prefeitura do Rio. O PCB ainda flerta com traços político-ideológicos baseados no marxismo-leninismo, porém sua demagogia classista e "comunista" está a serviço de encobrir na prática sua política reformista burguesa e de colaboração de classes, que se expressam na participação até pouco tempo em administrações petistas e nas alianças com o PSOL, que não tem um programa de ruptura revolucionária com a ordem burguesa ao contrário é refém do circo eleitoral fraudado da democracia dos ricos.

No momento em que o PCB completa 99 anos compreendemos que a denúncia da trajetória de colaboração de classes do PCB ao longo de sua história é parte da tarefa programática da construção de um genuíno partido revolucionário no Brasil, combate que a LBI reivindica inclusive como parte da luta que levou Mário Pedrosa e posteriormente Sachetta no próprio PCB, respectivamente nos anos 30 e 40, quando foram expulsos do partido, já stalinizado desde seu II Congresso em meados dos anos 20. Lançamos inclusive uma brochura quando dos 90 anos do PCB analisando esse processo político e histórico. É tarefa elementar dos verdadeiros marxistas leninistas o vigoroso debate político e programático com o objetivo de forjar as bases teóricas para que a vanguarda política possa avançar na construção de um verdadeiro partido comunista no Brasil, honrando os esforços que fizeram os nove delegados que em 25 de março de 1922 fundaram o PCB em ruptura com o anarquismo.