sábado, 20 de março de 2021

VOLKSWAGEN SUSPENDE PRODUÇÃO NO BRASIL ALEGANDO CINICAMENTE A “DEFESA DA VIDA DOS TRABALHADORES”: MONTADORAS ATUAM PARA ENXUGAR GASTOS COM SALÁRIO E MANUTENÇÃO DAS LINHAS DE PRODUÇÃO, NÃO ESTÃO PROTEGENDO A SAÚDE DOS OPERÁRIOS EM MEIO A PANDEMIA

Usando como pretexto a pandemia da COVID-19, a transnacional Volkswagen decidiu suspender a produção no Brasil. A medida valerá para todas as fábricas da empresa no país por 12 dias corridos, a partir de 24 de março. A paralisação atinge as quatro fábricas da marca no país: São Bernardo do Campo (SP), que produz os modelos Polo, Virtus, Nivus e Saveiro, Taubaté (SP), que faz Up, Gol e Voyage, São Carlos (SP), responsável pela produção de motores, e São José dos Pinhais (PR), de onde saem Fox e T-Cross. Por trás dessa suposta “medida humanitária” da montadora alemã está a dificuldade em encontrar fornecedores de componentes e a queda de demanda por veículos, o que a forçou antecipar seu calendário de reestruturação produtiva. A suspensão da produção da Volkswagen não tem nada a ver com a “defesa da vida dos trabalhadores”, foi tomada como parte de medidas gerenciais de suporte às taxas de lucro com o enxugamento dos gastos com salários e manutenção das linhas de produção. Faz isso também demitindo, fechando fábricas e jogando nas costas dos trabalhadores o peso desta reestruturação capitalista global. Esse é mais um sinal que o “Grande Reset” da economia capitalista mundial já está em pleno andamento. 

Ajustar a cadeia de fornecedores é muito difícil neste momento de pandemia porque as empresas que fornecem para VW também tem que se articular por outros nichos de atuação. Frente a esses obstáculos logísticos, a grande patronal prefere paralisar as plantas que arcar com os custos de não estarem produzindo nada ou em baixa intensidade, um recurso voltado pra manter suas margens de lucro. Esses são os reais fatores que fizeram a direção patronal da Volkswagen suspender temporariamente a produção de automóveis no Brasil.

Cinicamente, a Volkswagen afirma em nota que “Com o agravamento do número de casos da pandemia e o aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI nos estados brasileiros, a empresa adota esta medida a fim de preservar a saúde de seus empregados e familiares”. 

O que está por trás dessa decisão é que as montadoras estão enfrentando “graves problemas” para conseguir fornecedores de componentes. É muito difícil para os fornecedores de componentes do setor automotivo reverter um quadro após uma parada total de fabricação que se deu de março a junho do ano passado. Eles praticamente cancelaram toda a programação de produção. 

Lembremos que no final de fevereiro, a produção de carros da linha Onix (hatch e sedã) da GM foi suspensa por três semanas por falta de insumos e componentes essenciais, porém a montadora norte-americana também alegou a “defesa da vida”. A Honda também estava com problemas de suprimentos.

O agravamento recente da pandemia também fez com que os consumidores ficassem mais cautelosos na hora de investir em um carro. Estamos tendo quedas de produção e, consequentemente, quedas de demanda do setor em razão dos consumidores estarem se segurando frente aos riscos que estão acontecendo hoje nos termos de pandemia.

Por outro lado, lembremos que em 2015, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA acusou a Volkswagen de manipular os motores de vários automóveis a diesel para reduzir artificialmente as emissões de poluentes atmosféricos durante os testes de emissões, provocando impactos negativos na saúde humana e a contribuição do automóvel para as alterações climáticas. A Volkswagen usava um software que permitia detectar o início dos testes de emissões e ativar os controles que reduziam substancialmente as emissões de óxidos de nitrogénio (NOx), enquanto os mesmos controles eram desativados quando o automóvel se encontrava em circulação.

Neste marco, Fórum Econômico Mundial de Davos está promovendo na pandemia o seu “tema” favorito, a Grande Reinicialização, ou o “Great Reset” da economia. Uma das chaves entender tudo isso é aquilo que os rentistas querem dizer com “Carbono Líquido Zero” até 2050. A União Europeia (UE) está liderando a corrida, com um plano ousado para se tornar o primeiro continente “neutro em carbono” do mundo até 2050 e reduzir suas emissões de CO2 em pelo menos 55% até 2030. Não por coincidência suas grandes montadoras estão quase falindo, é o caso da tradicional Peugeot e da gigante Volkswagen.

Para adotar tais medidas a patronal conta com a colaboração dos sindicatos da CUT, FS e Conlutas. Para o presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si, as empresas e os funcionários, através dos sindicatos, devem estabelecer acordos. Ele disse que boas negociações são possíveis “quando existe boa fé, quando existe bom diálogo entre as partes”. Registre-se que esses “acordos” sempre retiram direitos e atacam conquistas. Para completar o cinismo, Di Si também fez um apelo, dizendo que é preciso “estimular e comunicar de uma forma clara que a ação não são férias ou um passe para ir em um churrasco, é para ficar em casa”, ou seja, a mesma política adotada pela esquerda Lockdown do PT, PCdoB, PSOL e PSTU. 

Não por acaso, o executivo da VW apontou que é necessário “colocar mais foco nas vacinas”, além de ações solidárias. “Não pensar no individual e pensar no coletivo, com distanciamento social, uso de máscaras”, aconselhou ele, copiando a pauta de terror sanitário da OMS, dos governadores neoliberais e da esquerda domesticada.

A decisão da Volkswagen foi tomada após negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O presidente do Sindicato, Wagner Santana, disse que ainda não houve acordo com todas as empresas, mas que a entidade "vai orientar seus associados a abrir negociação com os sindicatos responsáveis por cada planta produtiva, para discutir a situação e a possibilidade de parada, caso a caso". 

Obviamente que toda esta manobra de demagogia social, acompanhada de um cardápio de agressivos ataques aos direitos dos operários, contou com a cumplicidade da burocracia sindical corrompida da CUT/PT, que dirige o sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista. Há várias décadas que única plataforma política levada a cabo pela burocracia lulista é a da colaboração de classes. Os burocratas sindicais, também contam com apêndices degenerados da esquerda revisionista, como o PCO e PSTU, que falam de “classismo” em suas páginas na internet, mas que no cotidiano prático da luta sindical e política, avalizam sem dar um “pio” as traições descaradas dos petistas

A jogada de “marketing humanitário” da multinacional faz parte de uma estratégia comercial que tenta revitalizar o nicho de mercado da Volkswagen, como uma empresa que tem alguma “preocupação social”, em uma conjuntura de ofensiva neoliberal na pandemia em que os trabalhadores começam a perceber que existe um antagonismo irreconciliável entre o interesse do lucro capitalista e a vida da classe operária. 

Ao mesmo tempo suspende sua produção alegando “a defesa da vida” e ressalta sua pseudo face “humanista”, a Volkswagen planeja para os próximos anos fechar mais de 5 mil postos de trabalho no Brasil, congelar os salários e extinguirá direitos históricos de seus operários. Esse é o "remédio amargo" que a patronal deseja impor aos trabalhadores usando a pandemia do Covid-19 como pretexto!