terça-feira, 9 de março de 2021

SOLIDARIEDADE COM A CORAJOSA MARCHA DAS MULHERES TRABALHADORAS MEXICANAS QUE DESAFIARAM A QUARENTENA EXIGIDA PELA OMS: BRUTAL REPRESSÃO DO GOVERNO OBRADOR A MANIFESTAÇÃO DO 8 DE MARÇO CONTRA OS ATAQUES FEMINICIDAS

Centenas de mulheres se mobilizaram nesta segunda-feira no centro histórico da Cidade do México, no âmbito do 8M, para protestar contra a violência de gênero e de classe, além da legislação que criminaliza o aborto no país latino-americano. Durante o dia de mobilizações feministas, que partiu ao meio-dia do Monumento à Revolução com destino ao Zócalo da capital, a Polícia cercou as manifestantes com uma barreira de uniformizados e lançou gás lacrimogêneo para dispersar os contingentes que se aproximavam do Palácio Nacional. Diversos vídeos circularam nas redes sociais que mostraram como duas mulheres, com o rosto coberto, foram cercadas por cerca de 60 policiais, muito perto da Igreja de San Hipólito, entre o Paseo de la Reforma e a Avenida Hidalgo. Ao serem encapsuladas por funcionárias do grupo Ateneas, da Secretaria de Segurança Cidadã da Cidade do México (SSC-CDMX), as jovens se abraçaram. A poucos metros da estação Hidalgo do metrô, dezenas de policiais também encapsularam cerca de 20 pessoas e exigiram que mostrassem suas identificações, apesar da ausência de ordem judicial.

Da mesma forma, quatro fotojornalistas cobrindo mobilizações feministas no âmbito do Dia Internacional da Mulher foram detidas e agredidas pela polícia dentro da estação de metrô Hidalgo. Enquanto caminhavam pelo Palácio de Bellas Artes, que era protegido por cercas de metal como outros prédios e monumentos, as mulheres lançavam slogans de " Justiça! " E cantavam 'Viva sem medo', de Viviana Quintana, uma canção que denuncia a onda de femicídios no México.

No Zócalo da Cidade do México, a poucos metros do Palácio Nacional que estava protegido por cercas de metal, a Polícia lançou gás lacrimogêneo contra as mulheres que protestavam com o slogan:" Nem mais uma, nem mais uma, nem mais uma assassinada ". Alguns manifestantes conseguiram remover algumas cercas de metal que protegiam o Palácio Nacional e que haviam sido instaladas dias antes por instruções do governo Obrador. Em resposta, a polícia disparou gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes. As cercas, que segundo o presidente Andrés Manuel López Obrador foram colocadas para "prevenir a violência", estiveram no centro da polêmica dias antes. Na verdade, a cerca foi convertida por organizações feministas em um mural para exibir os nomes de "mulheres sobreviventes e vítimas de feminicídio".

Enquanto as filhas da classe média e da burguesia recorrem, à sombra da legislação hipócrita, às clínicas “clandestinas” sofisticadas com inteira segurança e higiene, as mulheres do proletariado sujeitam-se aos abatedouros de carne humana, já que abortam sem qualquer segurança ou auxílio profissional e em péssimas condições higiênicas, elevando as cifras de mutilações e complicações como perfurações uterinas, esterilidade, histerectomia e morte materna. Esta situação monstruosa é mais um exemplo que revela a farsa do chamado Estado democrático de Direito e sua democracia farsante a serviço dos ricos. 

Afinal, como dizia Lênin, toda classe dominante necessita, para garantir sua dominação, de duas funções básicas: a do carrasco, isto é, a repressão, e a do sacerdote, isto é, a ideologia. O Estado burguês, portanto, com suas instituições é um instrumento da violência organizada para manter a exploração da classe operária pelo capital.

Para combater essa realidade no México e no resto do planefaa é preciso levantar um programa que defenda: salário igual para trabalho igual, descriminalização do aborto e direito universal sem qualquer restrição a todas as mulheres que queiram fazê-lo, realização do aborto com acesso gratuito e garantido pelo Estado nos hospitais da rede pública para as mulheres trabalhadoras, assim como o pleno direito de uso de preservativos, anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte, distribuídos gratuitamente pelo Estado. Aposentadorias custeadas pelo Estado para donas de casa e empregadas domésticas. Criação de creches, lavanderias, restaurantes públicos e gratuitos próximos aos locais de trabalho, estudo e moradias. 

A erradicação completa da opressão social sobre a metade feminina do gênero humano requer a revolução socialista, liquidando o modo de produção capitalista e sua barbárie que usa o fantasma da crise para atacar as conquistas das trabalhadoras e seus companheiros de classe!

Para se opor à investida reacionária da Igreja Católica e à capitulação vergonhosa dos nacionalistas burgueses como Obrador, é necessário compreender que a luta pela descriminalização e legalização do aborto, tornando-o livre, gratuito e incondicional, soma-se a tantas outras reivindicações de caráter democrático dos trabalhadores, mas cuja realização é impossível nos marcos da senil democracia dos países atrasados. 

Desse ponto de vista, portanto, a defesa do aborto livre, legal e gratuito para as mulheres trabalhadoras deve ligar-se indissoluvelmente à destruição do regime capitalista e a superação de suas podres instituições. O fim da opressão feminina depende da capacidade da classe operária, mobilizada de forma centralizada e com seus próprios métodos de luta, liquidar o Estado burguês e sua exploração capitalista como parte da luta pela revolução socialista. 

A luta pela libertação da mulher da opressão do machismo capitalista pressupõe um combate sem tréguas a todas as ilusões no movimento das mulheres trabalhadoras no Estado burguês, suas leis e seu aparato repressivo, guardião da ordem social justificada pela ideologia burguesa e o machismo que dela faz parte. Toda saída para o problema da opressão feminina por dentro da democracia burguesa, como defendem o reformismo e o revisionismo do trotskismo, conduz à divisão do proletariado entre gêneros distintos, ao recrudescimento e ampliação do aparato repressivo estatal contra os trabalhadores. Em outras palavras, o feminismo burguês é contrarrevolucionário porque divide o proletariado, enfraquece sua luta e fortalece a repressão de seus inimigos de classe. 

Para combater o governo Obrador e colocar abaixo o modo de produção capitalista é necessário construir um movimento operário feminino classista que coloque a mulher trabalhadora como vanguarda da luta sem quartel contra o regime opressor dos homens e mulheres burguesas. Trata-se da unidade do conjunto da classe trabalhadora sob um programa revolucionário para derrotar a barbárie capitalista.