CASTILLO TOMA POSSE SUBMISSO AO “DEUS MERCADO”:
MINISTRO DA ECONOMIA NEOLIBERAL COMANDA "PLANO DE RECONCILIAÇÃO NACIONAL" DO GOVERNO DA CENTRO-ESQUERDA BURGUESA
O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou o nome de seus ministros da Economia e Justiça. Serão o neoliberal Pedro Francke e o advogado conservador Aníbal Torres, respectivamente. Ambos já haviam aceito o convite do presidente, mas diante da escolha de Guido Bellido Ugarte para ser o primeiro-ministro, os dois tinham resistência por suas posições mais à esquerda. Ambos ingressaram no governo de conciliação de classes da centro-esquerda burguesa como garantidores da ordem capitalista e como um sinal de submissão ao "Deus Mercado".
Francke vem assessorando Pedro Castillo desde a campanha
eleitoral. Em várias entrevistas, Francke afirmou que Castillo deve seguir o
modelo do Uruguai, nos anos de governo da Frente Ampla, com Tabaré Vázquez e
Mujica (2005-2020) de corte neoliberal. Francke não é a favor de estatizações
nem de mudanças nos pilares da economia atual do país. Um de seus pedidos a
Castillo, nos últimos dias, foi o de que o presidente do partido Perú Libre,
Vladimir Cerrón, deixasse de critica-lo publicamente. Em postagens em suas
redes sociais, Cerrón afirmou que Francke não tinha a mesma linha ideológica do
partido e estava mais alinhado aos "chicago boys", que apontariam
para "uma política econômica que já falhou em tantos países".
A negociação teve efeito. Cerrón deu seu apoio, lançando a seguinte mensagem: "Pedro Francke tem
todo o nosso apoio para aplicar a política econômica de estabilidade expressada
no plano Bicentenário sem Corrupção".
Em seu primeiro discurso, Castillo anunciou que enviará ao Congresso um projeto de reforma da Constituição. A atual favorece o liberalismo econômico e foi promulgada em 1993 pelo presidente Alberto Fujimori, o pai de Keiko Fujimori, adversária que Castillo derrotou no segundo turno. Keiko respondeu dizendo que seu partido, Força Popular, "será um muro de contenção firme em face da ameaça latente de uma nova constituição comunista".
"Vamos insistir nessa proposta, mas dentro do marco legal que a Constituição prevê. Teremos que conciliar posições com o Congresso", disse Castillo, cujo partido, Peru Livre, tem apenas 37 das 130 cadeiras. A segunda bancada é a Força Popular, com 24.
O anúncio da reforma constitucional deixou os empresários preocupados, mas era uma promessa de campanha de Castillo. A reforma causa "mais instabilidade" e "um clima de desconfiança", disse o chefe da organização peruana de liderança empresarial (Confiep), Óscar Caipo, à rádio RPP.
O presidente tem o desafio de reativar uma economia duramente atingida pela pandemia, que despencou 11,12% em 2020, além de acabar com as convulsões políticas que levaram o país a ter três presidentes em novembro de 2020.
A Venezuela foi um tema recorrente na campanha no segundo turno, pois a candidata Fujimori afirmou que seu adversário pretendia seguir os passos de Nicolás Maduro. Castillo negou ser "chavista" ou querer copiar o modelo venezuelano.
Enquanto se espera que a opção constituinte seja consolidada, a certeza é de que Pedro Castillo terá que lidar com um Congresso hostil e opositor, com uma história recente marcada pelo habitual conflito entre os poderes Legislativo e Executivo. Os mandatos de Pedro Pablo Kuczynski e de Martín Vizcarra estiveram marcados por estreitos recursos de confiança e vacância (o equivalente peruano de um impeachment cruzado em que o Executivo tenta esvaziar o Congresso e vice-versa). Esses mecanismos institucionais deixaram caídos quatro presidentes.
Uma primeira mostra foi a eleição da Mesa Diretiva do Parlamento, em que a lista do Perú Libre foi impugnada e venceu a candidata do setor mais conservador do Acción Popular, María del Carmen Alba, que liderará a legislatura durante o período 2021-2022. Esta resolução reflete uma correlação de forças preocupante, já que o Congresso será a instância responsável por aprovar os ministros indicados por Castillo.
Outro dado que preocupa é que a contestação à lista oficialista contou com 79 votos, apenas oito a menos do que o necessário para aprovar um recurso de vacância (impeachment).
Castillo conseguiu romper o bloco legislativo fujimorista com sérias concessões a direita, primeiro firmando acordos com o liberal Partido Morado e o social-liberal Acción Popular e em seguida iniciando diálogos com partidos burgueses personalistas como o Somos Perú (que levou Martín Vizcarra como primeiro candidato), o Alianza para el Progreso (do empresário César Acuña) e Victoria Nacional, do ex-goleiro de futebol George Forsyth. Até deputados que chegaram ao Parlamento através do ultradireitista Rafael López Aliaga anunciaram que apoiarão medidas do Perú Libre.
Do presidente anterior, Francisco Sagasti, à embaixada norte-americana no Peru, o triunfo de Castillo foi reconhecido, algo que a própria Keiko se negava a aceitar demonstrando o aval inicial da Casa Branca a gestão da centro-esquerda burguesa no Peru, cercada e domoninada pelo congresso e o judiciário, incapaz de fazer quaquer mudança elementar por meio das instituições do regime.
A retórica combativa de Fujimori também habilitou o surgimento de grupos de rua violentos que sob o nome de “La Resistencia” saíram para assediar Lima em uma espécie de cruzada “contra o comunismo”, com prédicas racistas e elitistas.
Os ataques a militantes e jornalistas feitos por essa formação alertam para possíveis escaladas de violência e enquadram nitidamente o chamado à “mais ampla unidade” convocada por Castillo no dia do seu reconhecimento oficial.
A escolha do economista e professor universitário Pedro Francke como ministro de Economia e Finanças monstra de Castillo está submisso ao "Deus Mercado". Francke, responsável pela Economia na equipe de Verónika Mendoza até então, chega ao posto após uma intensa agenda de negociaçaõ com os setores do establishment burguês peruano e a embaixada ianque.
Francke negou os rumores sobre expropriações e assegurou que construirá uma equipe de “funcionários de alto nível”. “Não haverá estatizações, nem expropriações, nem controle de preços”, explicou em entrevista ao El País. O economista mencionou a necessidade de impor novos impostos aos setores mais beneficiados pela exportação, como o cobre, e endossou a decisão de dar continuidade à política de autonomia do Banco Central de Reserva. “Das experiências latino-americanas, gosto mais da uruguaia”, sentenciou o economista.
À frente do Ministério das Relações Exteriores estará Héctor Béjar, sociólogo e escritor de 86 anos, referente vinculado aos movimentos de esquerda e funcionário do governo de Velasco Alvarado. A indicação da socióloga Anahi Durand (Nuevo Perú) à frente do Ministério da Mulher vem para derrubar os presságios sobre uma gestão conservadora em matéria de direitos das mulheres. Durand, doutora em Sociologia pela UNAM, foi chefe do plano de governo da campanha de Verónika Mendoza e pretende trabalhar em uma política nacional de igualdade que integre um sistema de cuidados e políticas específicas para mulheres empreendedoras.
Um importante foco da tensão na aliança oficialista está na relação entre o presidente e o partido Perú Libre. A pressão para distanciar Castillo de Vladimir Cerrón (ex-governador de Junín, presidente do Perú Libre e um dos principais quadros da estrutura partidária de esquerda) foi uma constante que emergiu dos grupos de direita, mas que ecoou na própria esquerda burguesa, que deu um giro à direita na formação do gabinete para agradar a burguesia e o imperialismo ianque.