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APRESENTAÇÃO
O 11 de Setembro de 2001 conseguiu conquistar um fato inédito na história do chamado movimento trotskista internacional ao longo dos últimos anos, qual seja, a unanimidade (ou quase, a exceção ficou por conta da LBI) monolítica à condenação do ataque ao Pentágono e às Torres Gêmeas, onde se localizava a sede da agência da CIA em New York, "pequeno detalhe" omitido completamente. Invocando o velho bolchevique, os bastardos do trotskismo, os mesmos que enlameiam a bandeira da IV Internacional nos mastros da frente popular, logo se apressaram em prestar solidariedade às vítimas "inocentes", alvos da sanha "criminosa" de bárbaros muçulmanos que recorrendo aos métodos do "terrorismo individual" teriam provocado a fúria do grande império, trazendo enormes prejuízos aos seus "planos" políticos de ascenderem os degraus do Estado "democrático" pela via do sufrágio universal. Estes revisionistas de todos os matizes, nem sequer envergonharam-se em somar ao coro do governo Bush e sua frente "antiterror" na condenação do ataque militar sofrido pelos EUA em 11 de setembro.
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Na mão desses senhores, Trotsky é como uma espécie de
"ungüento milagroso" que serve para todos os "males"
derivados de suas "doenças crônicas" do centrismo, até a
contra-revolução aberta, como foi no caso da ex-URSS. E como Trotsky se bateu
programaticamente contra o terrorismo individual, nada mais "justo"
do que "enquadrar", segundo as conveniências de plantão, os
acontecimentos de 11 de setembro na categoria do terrorismo individual para
depois derramarem suas lágrimas no caudal reacionário de solidariedade ao
imperialismo.
A polêmica em torno dos métodos do terrorismo individual não é nova, remonta à própria gênese do Partido Bolchevique, que na figura de Lênin foi obrigado a estabelecer uma rigorosa delimitação política e programática com os "narodiniks", membros da organização "Narodnaia Volia" (Vontade do Povo, em russo). Lênin teve nada mais que um irmão (o mais velho, que lhe introduziu as primeiras noções de marxismo) executado pelo regime tzarista sob a acusação de praticar "atos terroristas". A crítica radical elaborada por Lênin aos métodos do terrorismo individual partia sempre do pressuposto de sua ineficiência política para despertar a consciência de classe e a própria ação independente do proletariado. Nunca combateu o "terrorismo" sob a ótica da moral burguesa, mas sim pela pouca ou nenhuma função política de seus atos. O método do terrorismo individual acaba por prostrar as massas de sua ação direta, fazendo crer que um "punhado" de militantes "iluminados" que sacrificam a própria vida pela causa dos oprimidos são capazes de liquidar os carniceiros e verdugos das classes dominantes. Lênin sempre ressaltou que sua crítica estava centrada na pouca utilidade política do método do terrorismo individual e jamais em sua condenação pelo "excesso" ou "barbaridade" de seus atos. Anos mais tarde, o próprio Partido Bolchevique recorreu aos métodos do "terror militar" no calor da guerra civil, completamente distintos, no conteúdo (apesar da similaridade da forma) dos métodos do terrorismo individual.
Herdeiro da tradição leninista, o velho Trotsky também polemizou contra os equívocos do terrorismo individual, sempre frisando que suas simpatias estão com os "vingadores" e nunca com os "vingados" pertencentes às camadas do establishment burguês. Como dirigente do exército vermelho em meio a duas guerras, Trotsky sabia muito bem distinguir entre um alvo militar e um alvo civil, mesmo que no primeiro caso nunca pudesse se obter uma "pureza total", o que implicaria que um ataque sobre um alvo justo, do ponto de vista da política militar dos oprimidos, poderia atingir vítimas civis e não diretamente vinculadas no conflito. Mesmo os fuzilamentos exemplares, como foi o caso da família do Tzar, tinham um conteúdo simbólico para as massas, apesar de não atingir exclusivamente personalidades políticas ou militares das classes dominantes. A diferença fundamental entre o terrorismo individual, praticado quase sempre por pequenos grupos isolados do movimento operário e o terrorismo militar, utilizado em meio a grandes conflitos (guerras internacionais ou civis, revoluções etc.), reside na motivação política justa para sua utilização. Como Trotsky mesmo afirma, os oprimidos podem e devem utilizar-se dos recursos militares de que dispõem, regulares ou não, como a sabotagem em território inimigo, por exemplo.
Os revisionistas do genuíno trotskismo que condenam com veemência os "atentados" de 11 de setembro, "esquecem-se" que o governo Clinton bombardeou o Afeganistão com mísseis de alta destruição, causando a morte de milhares de vítimas inocentes na cidade de Cabul. Ressaltamos que os bombardeios sobre a capital afegã foram indiscriminados a bairros civis e não às sedes do governo Taleban. Não conseguimos lembrar de nenhum "choro" ou "lágrimas derramadas" pela mídia às vítimas afegãs de 1998. Mas quando há uma resposta militar dos oprimidos, que se utilizam de meios semelhantes ao terrorismo individual para atacar, nos alvos militares e políticos, o coração do império, todos se levantam em uníssono para condenar a "crueldade" do ataque ao Pentágono e às torres do WTC. Valeria a pena lembrar que no mesmo dia 11 de setembro de 2001, a Unicef revelou que 36.000 crianças morreram de fome no chamado terceiro mundo, vítimas da política colonizadora do imperialismo genocida. Também não se ouviu falar de uma única "lágrima derramada".
Nós, marxistas revolucionários da LBI, fiéis à herança revolucionária de Lênin e Trotsky, não nos juntamos à frente contra-revolucionária para condenar o suposto "ato terrorista" perpetrado em 11 de setembro. Apontamos sim sua incapacidade política em conduzir os oprimidos a uma vitória cabal sobre o imperialismo. Denunciamos vigorosamente as direções fundamentalistas na condução e execução equivocadas da "vingança" contra o monstro imperialista. O caráter reacionário destas direções, levaram inclusive à sua própria derrota política e militar frente à ocupação ianque no Afeganistão e parte do Paquistão. O grande levante de massas, ocorrido em todo o mundo islâmico contra a guerra imperialista acabou por sofrer um duro revés, como produto da própria orientação nacionalista burguesa do Taleban e seus congêneres. Somente a estratégia da revolução socialista mundial pode guiar o proletariado de todo o mundo a liquidar de forma definitiva o verdadeiro "satã", ou seja, o imperialismo mundial.
Esperamos que a publicação desta obra de Trotsky, inédita em português, potencie a gigantesca tarefa de clarificar o rumo da construção de um partido revolucionário e internacionalista em nosso país.
Os Editores
11.09.2002