domingo, 22 de agosto de 2021

“EM DEFESA DO MARXISMO”: A GRANDE BATALHA POLÍTICA E TEÓRICA DE TROTSKY NO INTERIOR DA IV INTERNACIONAL 

Para concluir as homenagens a Trotsky nos 81 anos de sua morte, o Blog da LBI analisa o livro “Em defesa do Marxismo” de Leon Trotsky. A obra é uma coletânea de cartas e documentos chaves de polêmicas dentro do Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party- SWP) dos Estados Unidos travadas há 80 anos, iniciada exatamente em setembro de 1939. 

A coletânea começa com uma carta de Trotsky para a James Cannon e segue com correspondências sobre a situação da URSS na II Guerra Mundial, abordando polêmicas envolvendo o caráter social e político do Estado Operário soviético. O debate sobre que campo se postar em meio a luta contra o imperialismo e sua máscara “democrática” não é novo, foi justamente nas fileiras de seu próprio partido que Trotsky travou a última e mais importante luta política de sua vida, no sentido de dar uma aplicação prática aos conceitos teóricos que fundamentam o programa da IV Internacional. 

A seção mais importante da IV Internacional, o SWP (norte-americano), organização que detinha uma vasta referência junto ao proletariado industrial, foi atingida por pressões pequeno-burguesas da opinião pública imperialista em relação à posição a ser tomada diante de uma guerra contra a URSS. É formada no interior do SWP uma fração liderada por Max Shachtman e James Burhnam (depois esta fração acaba por ganhar algumas seções inteiras da IV, como no caso do Brasil, com o alinhamento de Mario Pedrosa), que rejeitava a defesa incondicional da URSS, assim como se negava a estabelecer uma frente única com o stalinismo neste terreno sob a justificativa do caráter contrarrevolucionário deste último.

O programa de fundação da IV Internacional já apontava a necessidade do estabelecimento da frente única entre a “fração Reiss” (referindo-se a Ignace Reiss, trotskista soviético assassinado posteriormente por Stalin) com a burocracia termidoriana do Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado operário, “esta perspectiva torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã a tendência burguesa fascista, isto é a ‘fração Butenko’, entra em luta pela conquista do poder, a ‘fração Reiss’ tomará inevitavelmente, lugar no outro campo da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com Hitler a ‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento seria uma traição” (Programa de Transição).

O próprio Trotsky no final dos anos 30 teve que combater esta posição liquidacionista no seio da seção norte-americana da IV Internacional, o SWP, representada pela fração antidefensista de Shachtman e Burnham. Para este setor do “velho” SWP que deu origem ao revisionismo atual, Stalin era igual a Hitler, um “ditador sanguinário”, esta caracterização impediria, portanto a possibilidade de se estabelecer qualquer política de frente única com o Stalinismo na defesa das bases sociais do Estado operário soviético. No seu livro “Em defesa do marxismo”, Trotsky elaborou um artigo, “De um simples arranhão ao perigo de uma gangrena”, onde desconstrói na gênese a stalinofobia, tanto praticada pelos revisionistas da atualidade. Para Trotsky: “Stalin derrubado pelos trabalhadores significava a revolução, mas Stalin derrubado pelos imperialistas representava a contrarrevolução”. Não por coincidência, os dirigentes revisionistas do SWP acabaram seus dias de vida como colaboradores diretos do imperialismo norte-americano, inclusive a serviço das suas intervenções militares para “salvar a democracia”.

Mais uma vez Trotsky entra em cena, como um gigante, para defender o marxismo-revolucionário, contra aqueles que pretendiam "rejeitar, desqualificar e destruir os princípios teóricos e os fundamentos políticos do nosso movimento" (Carta Aberta ao camarada Burhnam, Leon Trotsky). A justificativa supostamente "esquerdista" da fração Shachtman "nem Hitler, nem Stalin" para a neutralidade em caso de agressão ao Estado operário é demolida por Trotsky da seguinte forma: "uma coisa é solidarizar-se com Stalin, defender sua política e outra, é explicar à classe trabalhadora mundial que apesar dos crimes de Stalin não podemos permitir que o imperialismo mundial esmague a União Soviética, restabeleça o capitalismo e converta a terra da revolução em uma colônia. É esta aplicação que proporciona bases para nossa defesa da União Soviética" (Balanço dos Acontecimentos finlandeses, Leon Trotsky). Quanto à consideração feita pela fração que a burocracia stalinista por seus crimes cometidos contra revolução já seria uma nova classe social, Trotsky volta a carga. "Na sua política atual, tanto interna como externa, a burocracia coloca em primeiro e principal lugar a defesa de seus próprios interesses parasitários. Nesta medida, travamos uma luta mortal contra ela, mas em última análise, através dos interesses da burocracia, de uma forma muito retorcida, refletem-se os interesses do Estado operário. Assim não lutamos de forma nenhuma que a burocracia salvaguarde (a seu modo!) a propriedade estatal!" (Em defesa do Marxismo, Leon Trotsky).

Sobre a eliminação do stalinismo no interior do Estado operário, Trotsky deixa bem claro a quem consistiria essa tarefa: "o proletariado tem razões suficientes para derrubar a burocracia stalinista corrompida até a medula, mas não pode, nem direta, nem indiretamente, deixar esta tarefa a Hitler ou a Mikado. Stalin derrubado pelos trabalhadores é um grande passo para o socialismo, Stalin eliminado pelos imperialistas é a contrarrevolução que triunfa" (Idem).

A luta fracional instalada no interior do SWP (e também da IV) era o reflexo direto das pressões da luta de classes. As posições defendidas pela fração pequeno burguesa de Shachtman e Burhnam, recusando-se à defesa incondicional da URSS, colocavam-se objetivamente no campo da política do imperialismo “democrático”. A evolução política destes elementos (apesar de terem obtido as mais amplas liberdades no interior do SWP), que rompendo com o trotskismo, foram abrigar-se, primeiro, no seio da social-democracia para depois acabarem nos braços do maccarthismo anticomunista, confirmou plenamente a caracterização de Trotsky sobre o caráter de classe hostil ao proletariado deste agrupamento. Ao longo da II Guerra Mundial os autênticos trotskistas souberam combater as tropas nazistas lado a lado do exército vermelho, em defesa da URSS.

A Quarta Internacional fundada por Trotsky já não mais existe, foi destruída pelos epígonos do trotskismo, que eufeministicamente ainda se reclamam formalmente (outros agora não mais) do legado de Trotsky. Estes revisionistas foram os mesmos que durante a destruição do Estado operário soviético pelo bando criminoso e restauracionista de Yeltsin saudaram o fim da URSS como uma “triunfante revolução democrática”, não tendo o menor descaramento de emblocarem-se com a contrarrevolução imperialista. 

Os shachtmanistas de hoje, tendo a cabeça os morenistas da LIT, não por coincidência, cometeram a mesma traição dos de ontem, ao renegarem a defesa incondicional da URSS. Em nome da fantasiosa “revolução árabe” se colocaram ao lado da OTAN e de seus “rebeldes” mercenários para derrotar as supostas “ditaduras sanguinárias” no Oriente Médio, quando na verdade estava em curso um processo de desestabilização dos decadentes regimes nacionalistas daquela região! 

A escória política revisionista da mesma cepa dos que caluniavam Trotsky de capitular a Stálin, respondemos com as sábias lições nos deixada pelo “velho bolchevique”, plenamente válidas até nossos dias: “Stalin derrubado pelos trabalhadores: é um grande passo para o socialismo. Stalin eliminado pelos imperialistas: é a contrarrevolução que triunfa” (Em Defesa do Marxismo).

Temos plena consciência que nos últimos anos de sua vida Trotsky se dedicou a formar a nova geração de militantes e a fundação da Quarta Internacional.

Como pontuamos, travou sua última grande batalha contra uma ala de seus partidários que sucumbiram à reação democrática imperialista. Morreu com a convicção de que “o dever dos revolucionários é defender todas as conquistas da classe trabalhadora, ainda que tenham sido desfiguradas pela pressão de forças hostis. Aqueles que são incapazes de defender as posições tomadas, nunca conquistarão outras novas”!