POR QUE CASTILLO AINDA NÃO FOI DECLARADO OFICIALMENTE
PRESIDENTE? EMBAIXADA IANQUE ESTÁ FECHANDO COM A ESQUERDA BURGUESA AS BASES DO FUTURO GOVERNO DE PACTO SOCIAL NO PERU
O Peru concluiu nesta terça-feira (15) a contagem oficial dos votos de sua eleição presidencial, realizada em 6 de junho. Segundo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), Pedro Castillo obteve 50,125% dos votos válidos, contra 49,875% de Keiko Fujimori. Ele teve 8.835.579, enquanto ela conseguiu 8.791.521, uma diferença de apenas 44.058 votos (0,25%). Ainda assim, Castillo não foi declarado vencedor porque continuam pendentes pedidos para anulação nos Júris Especiais Eleitorais do Júri Nacional de Eleições (JNE). O JNE ainda não decidiu sobre os pedidos de contestação de milhares de votos e centenas de atas das assembleias de voto. A pequena margem de votos servirá como elemento de chantagem permanente sobre Castillo, uma diferença fraudada que potencia a oposição de direita ao futuro governo de conciliação de classes, deixando totalmente refém das ordens do grande capital, além de ser uma frágil marionete que poder ser derrubado ao sabor dos interesses burgueses.
A pergunta que se faz é porque Castillo foi “aprovado” pelos
grandes capitalistas e pela Casa Branca mesmo se declarando
“Marxista-Leninista” em uma disputa que poderia tranquilamente ser declarada
como vitoriosa a direita fascista representada por Keiko Fujimori. A resposta
dos Marxistas a esta questão tem como pano de fundo o fato de a governança
global do capital financeiro desejar estabilizar politicamente o país
mergulhado em uma grave crise política, que já levou a queda consecutiva de
três presidentes em meio as disputas interburguesas.
Castillo veio durante a campanha se adequando as exigências
do “Deus Mercado”, como fez Lula em 2002 e depois Evo Morales na Bolívia. Ele
foi a grande surpresa da disputa eleitoral, embora já tenha retroagido, desde
que iniciou sua campanha ao segundo turno, em quase todas as propostas
consideradas pela mídia corporativa como “radicais” ou “socialistas”. Ele
representa o “novo” em um país castigado pela crise econômica, mas não tem
tradição política, portanto é facilmente manipulado e tem um base de apoio
volátil.
Sem dúvida a polarização eleitoral fraudada é um elemento
que vai servir de freio para a luta de classes ascendente no Peru. A candidata
derrotada, Keiko Fujimori é velha conhecida dos peruanos, tanto pelo sobrenome,
como por sua própria trajetória, ela chegou a ser detida sob acusação de ter
recebido US$ 1,2 milhão irregularmente da empreiteira brasileira Odebrecht no
Peru, como pelo fato de ser filha do ex-presidente golpista Alberto Fujimori
(1990-2000), atualmente preso por abusos de direitos humanos. Keiko defende a
velha plataforma do capital financeiro, ou seja, a manutenção das regras
econômicas atuais, como o livre comércio e medidas que facilitem os
investimentos especulativos externos, incluindo a liberação da mineração para
as grandes corporações imperialistas.
No primeiro ano da pandemia, em 2020, o Produto Interno
Bruto (PIB) do país registrou queda de quase 13%, o pior desempenho da América
do Sul. A profunda crise capitalista se soma a convulsão política. Em novembro
do ano passado, em meio a processos de impeachment, protestos e renúncias, o
Peru chegou a ter três presidentes no intervalo de uma semana. Neste contexto,
um amplo setor da população oprimida do país demonstrou "cansaço" com
as políticas neoliberais em vigor, o que contribuiu para que Castillo ganhasse
a eleição no segundo turno da eleição, galvanizando a revolta popular com um
discurso de “reformas capitalistas”.
Keiko buscou associar, com os torpes métodos neofascistas, a
imagem de Castillo ao “comunismo”, alardeando ridiculamente que uma vitória de
Pedro levaria o país a “ditadura do proletariado”. Porém o que assistimos em
cada ofensiva reacionária da Fujimori, foi um recuo cada vez mais vergonhoso de
Castillo em sua tênue plataforma reformista, que as vésperas da eleição já se
confundiram até com o programa neoliberal da candidata da extrema direita.
Com Trump rifado da Casa Branca, Bolsonaro nas cordas no
Brasil, tem todo sentid o aval da Casa Branca a Castilho e não ao clã
direitista dos Fujimori.
O governo de Pedro Castillo será marcado por crises
permanentes, diante das profundas ilusões das massas que ele irá enfrentar o
grande capital, o que obviamente não ocorrerá. Como ocorreu com o retorno do
MAS a presidência da Bolívia com Arce e na volta de Lula (PT) a corrida
presidencial no Brasil com chances de vitória em 2022, a esquerda burguesa no
continente latino-americano irá ocupar a cadeira presidencial no Peru, mas
seguirá a risca as ordens de seu verdadeiros chefes, os amos imperialistas.
Cabe ao movimento de massas partir para a ofensiva e impor com seus próprios
métodos de luta uma alternativa de poder dos trabalhadores.