sábado, 5 de junho de 2021

NESTE DOMINGO O PERU DECIDE QUEM SERÁ O PRESIDENTE: KEIKO VERSUS CASTILLO, OU MELHOR, DIREITA FASCISTA CONTRA ESQUERDA BURGUESA NEOLIBERAL

Os eleitores peruanos votam, neste domingo (06/06), no segundo turno da eleição presidencial entre os dois candidatos formalmente opostos, que representam, de um lado, a política da extrema direita e, do outro, o programa da esquerda burguesa neoliberal. O fato absolutamente novo nestas eleições é o surgimento de Pedro Castillo, de um partido que se diz Marxista-Leninista, Peru Libre, mas que no entanto adota o mesmo programa tradicional da esquerda burguesa neoliberal latino-americana.

Pelos perfis políticos formalmente distintos, o da candidata Keiko Fujimori, da Fuerza Popular (Força Popular), e de Pedro Castillo, do Perú Libre (Peru Livre), a votação está sendo chamada de “histórica” entre analistas políticos e eleitores peruanos, em meio a uma grave crise econômica e política. Curiosamente nas vésperas desta eleição, a OMS aceitou que se triplicassem os índices de óbitos da Covid, colocando o Peru como o campeão mundial de mortes pelo coronavírus.

Candidata pela terceira vez, Keiko é velha conhecida dos peruanos, tanto pelo sobrenome, como por sua própria trajetória, ela chegou a ser detida sob acusação de ter recebido US$ 1,2 milhão irregularmente da empreiteira brasileira Odebrecht no Peru, como pelo fato de ser filha do ex-presidente golpista Alberto Fujimori (1990-2000), atualmente preso por abusos de direitos humanos.

Keiko defende a velha plataforma do capital financeiro, ou seja, a manutenção das regras econômicas atuais, como o livre comércio e medidas que facilitem os investimentos especulativos externos, incluindo a liberação da mineração para as grandes corporações imperialistas.

Pedro Castillo é uma espécie de "outsider" da política peruana, vindo do chamado “Peru profundo”, inicialmente se definiu como "esquerda marxista", e que diz admirar o ex-presidente venezuelano, Hugo Chávez e o atual Nicolás Maduro. Professor do ensino fundamental, Castillo, de 51 anos, é a grande surpresa da disputa eleitoral, embora já tenha retroagido, desde que iniciou sua campanha ao segundo turno, em quase todas as propostas consideradas pela mídia corporativa como “radicais” ou “socialistas”. Com seu chapéu de palha, montado a cavalo e exibindo um lápis, ele simboliza o voto dos que sentem que não foram incluídos no “boom econômico” vivido pelo país nas últimas décadas.

Nos últimos dias, Castillo gerou polêmica ao dizer que "os feminicídios são resultado da ociosidade". O Peru é um dos países com maiores índices de católicos na América Latina e onde o debate sobre a inclusão de LGBTI ainda está longe na comparação com outros países da região como Argentina Uruguai, e Brasil por exemplo. Castillo que rejeita a comunidade gay, passou a contar com o apoio da emblemática dirigente da esquerda reformista no país, Verónica Mendoza, que tem a simpatia do voto sindical urbano.

Os dois candidatos também foram acusados de não respeitarem apelos da OMS e do atual presidente, Francisco Sagasti, para que não provocassem aglomerações de massas, que acabaram ocorrendo no último dia da campanha eleitoral, na noite de quinta-feira, somente três dias antes da votação. O país de quase 33 milhões de habitantes registra oficialmente agora 180 mil mortos por Covid, trata-se da mais alta taxa do mundo em mortes a cada milhão de habitantes, segundo a plataforma da Universidade de Oxford.

No primeiro ano da pandemia, em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrou queda de quase 13%, o pior desempenho da América do Sul. A profunda crise capitalista se soma a convulsão política. Em novembro do ano passado, em meio a processos de impeachment, protestos e renúncias, o Peru chegou a ter três presidentes no intervalo de uma semana. Neste contexto, um amplo setor da população oprimida do país demonstrou "cansaço" com as políticas neoliberais em vigor, o que contribuiu para que Castillo chegasse ao segundo turno da eleição, galvanizando a revolta popular com um discurso de “reformas capitalistas”.

Keiko buscou associar, com os torpes métodos neofascistas, a imagem de Castillo ao “comunismo”, alardeando ridiculamente que uma vitória de Pedro levaria o país a “ditadura do proletariado”. Porém o que assistimos em cada ofensiva reacionária da Fujimori, foi um recuo cada vez mais vergonhoso de Castillo em sua tênue plataforma reformista, que as vésperas da eleição já se confunde até com o programa neoliberal da candidata da extrema direita. Com o resultado totalmente aberto para amanhã, empate técnico entre Pedro e Keiko, a única certeza é que se prepara uma grande fraude eleitoral.