quarta-feira, 26 de maio de 2021

A SUPOSTA VOLTA DO SENDERO LUMINOSO NO PERÚ ÀS VÉSPERAS DAS ELEIÇÕES: UMA ARMAÇÃO FRAUDULENTA PARA BENEFICIAR O FUJIMORISMO 

O massacre de pelo menos 16 pessoas na cidade de San Miguel del Ene, no departamento de Junín (centro do país), abalou todo o Peru há menos de duas semanas antes do segundo turno eleitoral. Também impactou o debate político e gerou uma onda de especulação sobre qual das duas candidaturas presidenciais a a notícia mais prejudica, a resposta parece óbvia! Muito nebuloso o crime múltiplo operado na área conhecida como Vraem (Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro), mas as autoridades policiais peruanas atribuem a uma organização que se autodenomina "Partido Comunista Militarizado do Peru Marxista Leninista Maoista”.  Uma sigla já bem estranha para denominar uma organização marxista, mesmo se dizendo “maoísta”.

Este grupo é conhecido no Peru por ações anteriores atribuídas ao agrupamento, é apontado pelas Forças Armadas peruanas como remanescente do antigo e agora desorganizado grupo armado Sendero Luminoso, cujo líder histórico, Abimael Guzmán, cumpre prisão perpétua em isolamento total desde 1992.

Conforme as autoridades peruanas, o grupo que cometeu o recente massacre é liderado pelo chamado Clã Quispe Palomino, liderado pelos irmãos Víctor e Jorge Quispe Palomino. Os irmãos criaram a organização após a queda de Abimael Guzmán, embora ele não os reconheça como seus seguidores.

Os laços políticos após o atentado foram inevitáveis, já que o mesmo suposto grupo guerrilheiro deixou em evidência um manifesto no qual exige um "boicote às eleições burguesas" dos peruanos, entretanto mantendo que "quem votar a favor de Keiko Fujimori é um traidor, ele é o assassino de Vraem, ele é o assassino do Peru. "

Assim que foram conhecidos o atentado, seus operadores e a mensagem política por trás do massacre, o regime político peruano se encarregou de buscar possíveis vínculos entre o crime múltiplo e os candidatos participantes da disputa presidencial.

O candidato Pedro Castillo e seu partido político de esquerda reformista “Peru Libre”, foram os primeiros a serem acusados.  Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior e atual assessor técnico de Keiko Fujimori, foi rápido em apontar supostas ligações entre o clã Quispe Palomino e Vladimir Cerrón, secretário-geral do “Peru Libre” e ex-governador de Junín, departamento onde ocorreu o massacre. Rospigliosi declarou à mídia peruana RPP que Cerrón mantém laços com o clã Quispe Palomino em Vraem por meio do deputado Guillermo Bermejo, membro do Peru Libre.

Membros do “Peru Libre” e demais lideranças políticas que apóiam a candidatura de Pedro Castillo foram obrigados a afastar esse tipo de denúncia e apontar uma “armação”, na realidade os crimes conseguiram prejudicar ainda mais o candidato de esquerda, que vem sendo pressionado por semanas em uma campanha da direita que procura vinculá-lo com "comunismo".

Bermejo, um dos líderes do “Peru Libre” respondeu às acusações em diálogo com o Sputnik. "Eles tentam fazer as pessoas acreditarem que há um ressurgimento do terrorismo no Peru para prejudicar a campanha de Castillo, a quem difamaram e tentaram vincular a grupos terroristas ao longo da campanha, incluindo Vladimir Cerrón e eu", comentou. Cerrón, por sua vez, procurou apontar explicitamente como o ataque atendeu aos interesses da direita peruana, por meio do medo do terrorismo, um dos principais antagonistas que o fujimorismo teve durante os anos 1990.

“É a esquerda que precisa do Sendero Luminoso para ganhar as eleições ou é a direita que precisa dele? No final, os opostos são necessários, os opostos são idênticos, a dialética elucida a dúvida. Nosso partido condena todos os atos de terrorismo”, afirmou Cerrón no Twitter. O próprio candidato Castillo colocou em “cima da mesa” a intenção política fraudulenta deste tipo de episódios ao lembrar, em entrevista coletiva, que já ocorreram atentados semelhantes em Vraem nos anos de 2011 e 2016, nas eleições que tiveram Keiko Fujimori como uma das candidatas a Presidente. 

O candidato da esquerda, que se diz Marxista Leninista, também destacou que o ataque ocorreu após Rospigliosi ter destacado repetidamente os supostos vínculos entre Castillo e Sendero Luminoso. Castillo propôs ao presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, que as autoridades o incluíssem nas investigações do caso para descartar seu envolvimento.  “Que comecem comigo e com meu ambiente, com Pedro Castillo e seu comando”, enfatizou. 

Está absolutamente claro que o imperialismo não vê com bons olhos a vitória da esquerda reformista no Perú, e trata rapidamente de preparar uma grande fraude, em todas as frentes, para impedir a eleição de Pedro Castillo, que se encontra até o momento na dianteira de todas as pesquisas eleitorais.