A SUPOSTA VOLTA DO SENDERO LUMINOSO NO PERÚ ÀS VÉSPERAS DAS ELEIÇÕES: UMA ARMAÇÃO FRAUDULENTA PARA BENEFICIAR O FUJIMORISMO
O massacre de pelo menos 16 pessoas na cidade de San Miguel del Ene, no departamento de Junín (centro do país), abalou todo o Peru há menos de duas semanas antes do segundo turno eleitoral. Também impactou o debate político e gerou uma onda de especulação sobre qual das duas candidaturas presidenciais a a notícia mais prejudica, a resposta parece óbvia! Muito nebuloso o crime múltiplo operado na área conhecida como Vraem (Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro), mas as autoridades policiais peruanas atribuem a uma organização que se autodenomina "Partido Comunista Militarizado do Peru Marxista Leninista Maoista”. Uma sigla já bem estranha para denominar uma organização marxista, mesmo se dizendo “maoísta”.
Este grupo é conhecido no Peru por ações anteriores
atribuídas ao agrupamento, é apontado pelas Forças Armadas peruanas como
remanescente do antigo e agora desorganizado grupo armado Sendero Luminoso,
cujo líder histórico, Abimael Guzmán, cumpre prisão perpétua em isolamento
total desde 1992.
Conforme as autoridades peruanas, o grupo que cometeu o
recente massacre é liderado pelo chamado Clã Quispe Palomino, liderado pelos
irmãos Víctor e Jorge Quispe Palomino. Os irmãos criaram a organização após a
queda de Abimael Guzmán, embora ele não os reconheça como seus seguidores.
Os laços políticos após o atentado foram inevitáveis, já que
o mesmo suposto grupo guerrilheiro deixou em evidência um manifesto no qual
exige um "boicote às eleições burguesas" dos peruanos, entretanto
mantendo que "quem votar a favor de Keiko Fujimori é um traidor, ele é o
assassino de Vraem, ele é o assassino do Peru. "
Assim que foram conhecidos o atentado, seus operadores e a
mensagem política por trás do massacre, o regime político peruano se encarregou
de buscar possíveis vínculos entre o crime múltiplo e os candidatos
participantes da disputa presidencial.
O candidato Pedro Castillo e seu partido político de
esquerda reformista “Peru Libre”, foram os primeiros a serem acusados. Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior
e atual assessor técnico de Keiko Fujimori, foi rápido em apontar supostas
ligações entre o clã Quispe Palomino e Vladimir Cerrón, secretário-geral do
“Peru Libre” e ex-governador de Junín, departamento onde ocorreu o massacre.
Rospigliosi declarou à mídia peruana RPP que Cerrón mantém laços com o clã
Quispe Palomino em Vraem por meio do deputado Guillermo Bermejo, membro do Peru
Libre.
Membros do “Peru Libre” e demais lideranças políticas que
apóiam a candidatura de Pedro Castillo foram obrigados a afastar esse tipo de
denúncia e apontar uma “armação”, na realidade os crimes conseguiram prejudicar
ainda mais o candidato de esquerda, que vem sendo pressionado por semanas em
uma campanha da direita que procura vinculá-lo com "comunismo".
Bermejo, um dos líderes do “Peru Libre” respondeu às
acusações em diálogo com o Sputnik. "Eles tentam fazer as pessoas
acreditarem que há um ressurgimento do terrorismo no Peru para prejudicar a
campanha de Castillo, a quem difamaram e tentaram vincular a grupos terroristas
ao longo da campanha, incluindo Vladimir Cerrón e eu", comentou. Cerrón,
por sua vez, procurou apontar explicitamente como o ataque atendeu aos
interesses da direita peruana, por meio do medo do terrorismo, um dos
principais antagonistas que o fujimorismo teve durante os anos 1990.
“É a esquerda que precisa do Sendero Luminoso para ganhar as eleições ou é a direita que precisa dele? No final, os opostos são necessários, os opostos são idênticos, a dialética elucida a dúvida. Nosso partido condena todos os atos de terrorismo”, afirmou Cerrón no Twitter. O próprio candidato Castillo colocou em “cima da mesa” a intenção política fraudulenta deste tipo de episódios ao lembrar, em entrevista coletiva, que já ocorreram atentados semelhantes em Vraem nos anos de 2011 e 2016, nas eleições que tiveram Keiko Fujimori como uma das candidatas a Presidente.
O candidato da esquerda, que se diz Marxista Leninista, também destacou que o ataque ocorreu após Rospigliosi ter destacado repetidamente os supostos vínculos entre Castillo e Sendero Luminoso. Castillo propôs ao presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, que as autoridades o incluíssem nas investigações do caso para descartar seu envolvimento. “Que comecem comigo e com meu ambiente, com Pedro Castillo e seu comando”, enfatizou.
Está absolutamente
claro que o imperialismo não vê com bons olhos a vitória da esquerda reformista
no Perú, e trata rapidamente de preparar uma grande fraude, em todas as
frentes, para impedir a eleição de Pedro Castillo, que se encontra até o
momento na dianteira de todas as pesquisas eleitorais.