sexta-feira, 21 de maio de 2021

COLÔMBIA EM LUTA: LONGA GREVE GERAL GANHA FORÇA E DERRUBA A SEGUNDA REFORMA NEOLIBERAL DO GOVERNO DUQUE

Já se passaram 24 dias desde o início da histórica greve nacional na Colômbia e o processo radicalizado está longe de terminar.  Ao contrário, ontem a rebelião marcou um novo marco ao fazer com que o governo neofascista de Iván Duque, por meio de seus legisladores, votasse a favor do arquivamento da proposta de reforma neoliberal do sistema de saúde pública do país. Como a reforma já tinha caráter parlamentar, o Executivo não poderia cancelá-la diretamente. Mas o bloco governista dirigente da Câmara e do Senado votou contra sua própria proposta, junto com outros partidos, o que representa uma desmoralização para o uribista e um novo triunfo político para a rebelião popular colombiana. Entre as duas câmaras parlamentares a votação terminou por 27 a 5 a favor do arquivamento da odiosa (contra)reforma.

A proposta do governo implicava avançar ainda mais na privatização de um sistema público de saúde que já tem uma parcela significativa de terceirização para entidades privadas.  Na verdade, os próprios médicos e enfermeiras foram os principais detratores da proposta. A princípio, o governo Duque havia ensaiado um falso discurso "sanitarista"(o mesmo da OMS e da esquerda reformista)contra as mobilizações, acusando aqueles que se mobilizavam de promover o contágio da Covid-19. Os próprios profissionais de saúde se encarregaram de negar o discurso reacionário do “Isolamento Social “e aderiram plenamente às fileiras da rebelião.Junto com a rejeição da já também derrotada reforma tributária, a queda da reforma do sistema de saúde representou uma das principais demandas dos protestos.  Este é um novo golpe político para o governo Duque, que observa intrépido sem saber mais o que fazer para deter a rebelião, que não para de crescer.

Quando o governo abandonou a reforma tributária, que havia sido o gatilho para os protestos em massa, esperava acabar com o “surto das massas”. Mas era tarde demais. Com o retrocesso político do governo, a rebelião exigiu mais forças para questionar aspectos do regime burguês colombiano como um todo.

Outra conquista que foi festejada por amplos setores como um triunfo foi a decisão do governo de cancelar a Copa América no país. Os protestos denunciaram que se tentaria esconder a crise social e os massacres contra o povo com o mais importante torneio continental de futebol do país, uma típica manobra distracionista do governo tentando sensibilizar a paixão das massas pelo futebol. Por fim, a Copa América será disputada exclusivamente na Argentina, pelo menos até que a rebelião popular ecloda por lá.

Junto com a "concessão" para retirar a reforma tributária, o governo optou por esmagar a rebelião por meio da draconiana repressão militar. Imagens sangrentas e brutais das Forças Armadas e da ESMAD (Polícia de Motim) realizando verdadeiros massacres em bairros populares de cidades como Cali ou Bogotá percorreram o mundo através das redes sociais. O repúdio foi tão grande que até a própria OEA - apêndice do Departamento de Estado  imperialista ianque e forte aliado político da Colômbia - teve que sair e repudiar formalmente os "excessos" da repressão brutal. O fato político é que essa orientação repressiva também foi derrotada pela força da rebelião. O repúdio aos assassinatos, torturas, abusos e prisões de policiais e militares, longe de intimidar as massas mobilizadas, deu-lhes forças para resistir e avançar na compreensão de que é preciso destruir e não reformar todo o aparelho policial do Estado capitalista.

Além das tentativas desesperadas do governo neofascista para impedir os protestos, os dias da Greve Nacional continuam ocorrendo e milhares de pessoas tomam as ruas das principais cidades todos os dias. A rebelião adotou um método de ação direta tão profundo e amplo que nenhuma medida parcial que o governo criminoso e o regime neoliberal burguês podem deter.

Isso explica por que qualquer tentativa de negociação fracassou, apesar de já haver três reuniões sucessivas entre o Comitê Nacional de Desemprego (CNP) e o Governo para discutir as demandas dos protestos, e uma quarta já foi convocada. O governo Duque, com sua natureza reacionária inerente ao regime político do qual faz parte, não pode oferecer mais do que certas concessões mínimas que a consciência das massas rebeldes há muito ultrapassou. É também por isso que as diferentes expressões da burocracia sindical reformista, apologista do lockdown, não têm o que "se agarrar" para sequer começar a pensar em algum tipo de acordo. A rebelião e o regime político colombiano são inconciliáveis, por sua própria natureza de classe, a tarefa central do movimento deve ser a da construção de uma alternativa revolucionária de poder do proletariado!