terça-feira, 25 de maio de 2021

GRAVE CRISE SANITÁRIA DA ÍNDIA: HISTORICAMENTE UMA TRAGÉDIA MUITO ALÉM DA COVID... 

A pandemia está atingindo fortemente a Índia. Nas últimas semanas, o mundo midiático tem voltado suas atenções para este gigante país asiático, que, apesar de ter passado com poucos danos pela “primeira onda” da Covid, mais mortes em consequência do Isolamento Social (cerco de comunidades pobres) e do lockdown econômico do que propriamente pelo vírus. Porém agora a Índia começou a sofrer um grande aumento de óbitos entre o final de 2020 e os primeiros meses de 2021, com a chegada da “segunda  onda”, sendo marcada pelo aparecimento de uma nova variante do vírus, muito mais contagiosa do que a primeira. O país registra 26 milhões de casos de contaminação, com mais de 300 mil óbitos e uma média de mortes diárias de quase 4 mil pessoas, superando inclusive os altos índices computados fraudulentamente no Brasil.

Entretanto na Índia o coronavírus parece ser somente a “porta de entrada”, com a população sofrendo com o surto de um fungo letal, popularmente conhecido como “fungo preto”, que causa a doença da mucormicose. Essa doença já existia na Índia antes da pandemia, mas era considerada rara, tendo atingido um aumento extraordinário com esta nova variante do Covid. Por ser causada pela exposição a fungos do gênero Mucor, comumente encontrados no solo, no ar e até mesmo no nariz e no muco humano, a doença se espalha pelo trato respiratório e corrói estruturas faciais.  Associada ao coronavírus, a mucormicose tem efeitos muito mais graves e aumenta consideravelmente as chances de morte. Às vezes, os médicos precisam remover cirurgicamente o olho para evitar que a infecção chegue ao cérebro do paciente. As condições sanitárias completamente inadequadas nos centros de tratamento permitem a exposição ao fungo, que já resultou em 9 mil casos de infecção. Ou seja um fungo antigo, assim também como é antigo o patógeno coronavírus, se “modernizou”, levando um surto letal a uma população assistida sanitariamente de forma muito precária, por um país capitalista que é uma das potências atômicas do planeta.

O cenário da saúde pública indiana é catastrófico há mais de um século. A falta de oxigênio nos hospitais, crematórios lotados, falta de ambulâncias e pessoas morrendo nas ruas se tornaram comuns no dia a dia dos índianos. Apesar de ser um dos maiores exportadores globais de medicamentos, a população indiana nunca teve remédios suficiente para tratamento de enfermidades básicas. Por isso o país acabou desenvolvendo uma medicina baseada em tratamentos naturais, que agora são “demonizados” pela Big Pharma por razões óbvias. Os grandes laboratórios instalados na Índia são corporações multinacionais e utilizam o país como plataforma de exportação para seus produtos. As consequências econômicas e sociais agravam ainda mais a situação pandêmica. Cerca de 230 milhões de indianos(um Brasil inteiro)caíram na pobreza devido ao Isolamento Social imposto pelo coronavírus, sendo os jovens e as mulheres os mais afetados. O confinamento implementado por meses na Índia deixou cerca de 100 milhões de pessoas desempregadas, de acordo com um relatório da Universidade Azim Premji publicado no início de maio. Cerca de 47% das pessoas afetadas pelo desemprego são mulheres, o que também dificulta o lento processo de inclusão social das mulheres e igualdade de gênero no país. 

Curiosamente, há um ponto contraditório na crise indiana: o país é o maior fabricante mundial de vacinas e mesmo assim continua caminhando para a catástrofe do sistema público de saúde. Existem dois principais produtores de vacinas em solo indiano, o Serum Institute, na cidade de Pune, que está produzindo a vacina AstraZeneca, e a Bharat Biotech, em Hyderabad, que está produzindo sua própria vacina. O reacionário governo indiano autorizou as empresas a começarem a produzir doses no ano passado e o país rapidamente se tornou o maior produtor global. A produção em larga escala fazia parte de uma estratégia do governo indiano para combater a pandemia, acreditava-se que, com mais produção, maior o estoque nacional de doses. Mas a maior parte das vacinas produzidas em solo indiano foi destinada à exportação e com o agravamento da crise interna, a fabricação diminuiu consideravelmente devido à falta de insumos, tornando o estoque nacional insuficiente para conter o ciclo viral, ou em outra hipótese tornando a reserva da vacina indiana ineficaz diante da nova variante. 

A escassez de vacinas, no entanto, só foi “percebida” depois que o governo Modi iniciou um plano abrangente de vacinação em massa no início de maio. Apenas 41 milhões de pessoas foram totalmente vacinadas, enquanto 104 milhões receberam a primeira dose. Em muitos países, esse número seria significativo, mas em uma nação com 1,4 bilhão de habitantes, os dados são extremamente baixos.  Em resposta à crise, o governo suspendeu a exportação de vacinas, o que parece não ter alterado em nada a situação da epidemia no país. O objetivo do governo da extrema direita de Narendra Modi é tentar fazer uma demagogia nacionalista e preservar seu mandato. Alguns países já pagaram antecipadamente milhões de doses que serão enviadas apenas  no final de 2021, quando o governo espera retomar as exportações, foi o calote internacional dado por Modi. 

Também é necessário enfatizar como a ausência de uma preocupação econômica e social com o lockdown prejudicou a população da Índia, deixando milhões de pessoas na pobreza e no desemprego sem qualquer apoio estatal. Sem assistência, as pessoas não podem ficar isoladas em suas casas porque morrerão de fome, a tendência é que cada vez mais saiam em busca de trabalho ou outra forma de obter recursos. Isso cria um ciclo vicioso de aumento simultâneo da pobreza e das doenças no país, um terreno muito fértil não só para o patógeno coronavírus, mas para todos os tipos de micróbios, como bactérias, fungos e germes. Mas a tragédia indiana, parece ter sido planejada sob medida pelo Fórum de Davos (dirigido pelo clube dos rentistas), um mega cenário perfeito para iniciar o Grande Reset da economia capitalista em um país periférico e portentoso.