LIÇÕES DA GUERRA DAS MALVINAS: HÁ 39 ANOS REVISIONISTAS SE
ALINHARAM COM A INGLATERRA "DEMOCRÁTICA" E TROTSKISTAS SE PERFILARAM
MILITARMENTE COM A DITADURA ARGENTINA CONTRA O IMPERIALISMO
Há 39 anos, mais precisamente no dia 02 de abril de 1982, sob a intensa pressão do movimento operário e popular, com a ditadura genocida em colapso, a Junta Militar argentina do general Galtieri determinou a invasão das ilhas Malvinas com o objetivo de desviar o foco das manifestações contra o regime de exceção e recuperar o apoio popular, explorando o justo ódio antiimperialista das massas exploradas.
Na verdade, a Junta Militar não tinha nenhuma intenção de entrar em conflito armado com o imperialismo. Os generais argentinos alimentavam ilusões de que não haveria uma resposta militar enérgica do império britânico, devido a um suposto desinteresse deste em manter seu domínio sobre as ilhas. Ademais, esperavam contar com o apoio do imperialismo norte-americano, através do "cawboy" Ronald Reagan, considerado como um aliado incondicional da ditadura fascistizante, para intermediar um acordo diplomático.
A resposta da primeira ministra Thatcher foi uma imediata declaração de guerra com o envio da frota real britânica para iniciar o contra-ataque, que contou com aliados de primeira hora como os EUA e o Chile de Augusto Pinochet, que cedeu o território chileno para base de operações e de abastecimento das forças armadas do Reino Unido.
A reação do governo “conservador” de Margaret Thatcher, em parte, foi uma conseqüência da situação política interna marcada pela queda de popularidade provocada pela recessão econômica, o crescimento do desemprego e as medidas de ajuste, conhecidas como “políticas neoliberais”, que incluíam as privatizações e o corte dos direitos sociais, enfrentando a reação dos trabalhadores, como a histórica greve dos mineiros. Nessas circunstâncias, um revés na arena militar enfraqueceria ainda mais o governo neoliberal e aprofundaria a crise social.
Além disso, o império britânico não podia admitir que a falta de uma resposta à ocupação das Malvinas fosse vista pelos povos de todo o mundo como um símbolo de debilidade de seu poder bélico. Por outro lado, para os Estados Unidos, ainda que a ditadura argentina fosse um importante parceiro dos ianques na América Latina, a Inglaterra era um aliado mais importante na sua cruzada reacionária anticomunista em nível mundial, sobretudo contra a URSS e os estados operários do Leste Europeu.
Dessa
forma todas as expectativas que nortearam a "aventura" militar da
Junta Militar argentina foram frustradas, não lhes restando outra saída no
âmbito de sua estratégia a não ser a completa e vergonhosa rendição, após o
cerco aéreo e naval imposto as tropas argentinas, praticamente abandonadas com
fome e frio nas Malvinas. Logo após o covarde fiasco dos militares genocidas as
massas colocariam abaixo a ditadura iniciando o longo ciclo da democracia
burguesa na Argentina, que se arrasta aos dias atuais com o governo neoliberal
de Macri.
Objetivamente, o conflito entre a Argentina e a Inglaterra despertou um sentimento antiimperialista não só entre as massas argentinas, mas entre os povos oprimidos de todo o mundo. Contra a ofensiva militar do imperialismo britânico, ocorrem massivas manifestações em vários países latino-americanos. No Peru, por exemplo, cerca de 150.000 manifestantes marcharam sobre a capital, Lima. Nos Estados Unidos, milhares de imigrantes latinos realizaram manifestações nas ruas de Los Angeles e São Francisco.
Na Argentina a postura antiimperialista da maioria da população ficou marcada num conjunto de iniciativas protagonizadas pelas massas, como a suspensão dos serviços de comunicação com o Reino Unido pelos trabalhadores telefônicos, a organização de campanhas de coletas de dinheiro, alimentos e roupas para as tropas e a apresentação de mais de 100 mil voluntários para combater.Por outro lado os vizinhos regimes militares "muy amigos", se bandearam para o campo militar da Inglaterra temendo o pequeno apoio que a Argentina recebera da URSS.
No campo da esquerda revisionista que reivindicava o Trotskismo, a corrente de maior peso no movimento operário e de massas, o PST (organização morenista que antecedeu o MAS, anos depois partido fundador da LIT) defendeu a derrota militar do Reino Unido como eixo central para o desenvolver uma mobilização de massas que, ao mesmo tempo, prepararia a luta contra a ditadura. Essa posição estava expressa na consigna “No a la paz sin soberania”.
Os Morenistas do PST afirmavam estar “no mesmo campo militar do governo argentino, enquanto este continue a guerra contra o imperialismo”. Hoje, a LIT que foi fundada então pelo MAS argentino passou de paladina da posição histórica correta de unidade de ação militar com o carniceiro Galtieri em defesa das Malvinas contra a agressão anglo-imperialista a Argentina no começo dos anos 80, a apologistas de uma “revolução democrática” pró-imperialista no Oriente Médio e América Latina, onde a Casa Branca e a OTAN são os atores principais do suposto combate as “ditaduras sanguinárias” anteriormente na Líbia destruída e agora na Síria e Venezuela.
Passados trinta e cinco anos, a LIT que à época foi duramente criticada por outras correntes revisionistas européias por uma suposta capitulação a um regime militar assassino de mais de trinta mil militantes de esquerda, se converteu hoje em partidária da “frente única circunstancial” com a OTAN, em nome da defesa das “liberdades democráticas”.
Estes revisionistas jogaram no lixo o abc do Leninismo e do trotskismo, além de esquecerem as próprias lições deixadas por Moreno, quando afirmava que “preferia estar no campo militar dos generais facínoras do que em nome da democracia apoiar a ocupação da Argentina pela frota imperial da Inglaterra”.
É sintomático que a própria LIT, anteriormente na mesma trincheira da “ditadura sanguinária” de Galtieri contra o imperialismo britânico, agora se utilize do pretexto de que Maduro ou Al-Assad seriam ditadores para se postar no campo político e militar do imperialismo “democrático” e sua falsa “rebelião”. Com a benção da OTAN a “revolução” aplaudida pela LIT na Líbia substituiu um regime nacionalista que colocava alguns entraves na presença dos EUA na região por uma "associação" de mafiosos ex-kadafistas que estão loteando o país entre as principais potências imperialistas. A OTAN e seus “amigos da Síria” pretendem fazer a mesma devastação em Damasco patrocinando os ataques da oposição de direita ao governo de Al-Assad.
Esses canalhas da direção da LIT, e do racha dirigido pelo prof.Valério (Resistência-PSOL) que hoje envergonhariam o próprio Moreno se vivo estivesse, são os mesmos que depois de saudarem a contrarrevolução que liquidou a URSS nos anos 90 como um “acontecimento revolucionário” se renderam à reação democrática mundial e não passam de papagaios da mídia "murdochiana" internacional.Vale lembrar que não faltaram as vozes da esquerda do “velho mundo” para apoiar a permanência das Malvinas sob o tacão real, supostamente “sensibilizados” pelos reclamos dos Kelpers.
Neste arco encontram-se correntes revisionistas como a de Alan Woods e Peter Taaff, Esquerda Marxista e LSR do PSOL respectivamente. Estes agrupamentos internacionais com “matriz” em Londres, no conflito de 1982 apoiaram vergonhosamente a Inglaterra “democrática” de Thatcher contra a Argentina “autoritária” dos generais gorilas, repetindo a mesma posição pró-imperialista nos dias de hoje, como na Síria .
A política do derrotismo na guerra das Malvinas equivaleu objetivamente, a se emblocar com o imperialismo britânico contra a Argentina, um país cujo caráter semicolonial vinha se aprofundando cada vez mais desde a implantação da ditadura semifascista que, agindo sob a proteção do imperialismo e em nome dos interesses do capital financeiro internacional, destruía aceleradamente indústria nacional e transformava o país numa velha colônia agrário-exportadora.T
anto há 35 anos atrás na Argentina como hoje na Síria e Venezuela a posição dos verdadeiros Marxistas Revolucionários é a defesa incondicional da nação oprimida contra a agressão imperialista, inclusive em frente única militar com as forças do regime autoritário, tendo claro a incapacidade de qualquer burguesia nacional em conduzir consequentemente um confronto militar com o imperialismo até a plena vitória. Esta tática deve estar baseada no princípio da mais completa independência política dos explorados e subordinada à estratégia revolucionária da tomada do poder pelo proletariado.
Nesse sentido, a defesa de uma frente militar com o governo Galtiere, com absoluta independência política, passava pela criação de organismos próprios de poder proletário e a formação de milícias armadas de voluntários, não submetidas à disciplina e à hierarquia das reacionárias forças armadas do regime, responsáveis pelo assassinato de 30.000 lutadores. O mesmo programa Trotskista se impõe na Síria e Venezuela hoje para derrotar a ameaça colonialista do imperialismo ianque.